Edição 39 - Aula-Passeio Revela o Rio de Janeiro


A Cidade Maravilhosa estudada pelos olhos interdisciplinares da História, Geografia, Matemática, Língua Portuguesa e Ciências

Por Antônia Lúcia

Uma idéia na cabeça e uma câmera na mão. Apropiando-se da máxima do cineasta Glauber Rocha, os alunos da 7.ª e 8.ª séries da Escola Municipal Barão de Santa Margarida, localizada no bairro de Santa Margarida, Cosmos, Zona Oeste do Rio de Janeiro, receberam do professor de História Guilherme Degou a missão de sair em campo, ou melhor, às ruas e pesquisar a expansão urbana da cidade do Rio de Janeiro até a formação do “bairro Santa Margarida” e adjacências, destacando a qualidade dos serviços públicos da metrópole e suas responsabilidades.

O objetivo do projeto intitulado Rede Barão de Televisão é contribuir para diminuir a violência entre os jovens das comunidades atendidas pela escola, desenvolvendo nos alunos o hábito de participar, de forma crítica e construtiva, da organização política, econômica e social da cidade do Rio de Janeiro e da região onde moram.

Conhecendo a Cidade Maravilhosa

Apesar de ser considerada caixa de ressonância das questões nacionais, a cidade do Rio de Janeiro ainda continua sendo uma grande incógnita para muitos de seus moradores. Para desvendar parte desse enigma, o coordenador do projeto, professor Guilherme Degou, com a ajuda dos professores Dilma Barrozo, de Língua Portuguesa; Eliane, de Ciências; Gilmar, de Matemática, e José Antenor, de Geografia, organizou duas aulas-passeio envolvendo as turmas 801 e 802.

Munidos com câmeras filmadora e fotográfica, Atlas da cidade do Rio de Janeiro, material de som e vídeo, gravadores, blocos de anotações e outros apetrechos, os discentes iniciaram um tour por alguns pontos da cidade e de suas comunidades. O itinerário traçado pelos professores permitiu que os alunos tivessem uma ampla visão da metrópole, uma vez que incluiu tanto o lado norte, Avenida Brasil, passando pelo Centro da cidade, quanto o lado sul – orla do Leme ao Pontal.

Durante o passeio, os professores de História e Geografia destacaram os aspectos socioeconômicos das regiões visitadas e sua relação com a organização da sociedade brasileira. De acordo com alguns alunos, essa experiência extracurricular serviu para abrir novos horizontes no que diz respeito à questão da desigualdade social existente em nossa cidade.

Caminhada pelas Ruas da Comunidade

Depois de apreciar a beleza de um dos mais belos cartões postais do nosso país, os alunos rumaram em outra direção. Divididos em grupos, eles percorreram as ruas do bairro em que vivem destacando os pontos negativos e positivos da região. Segundo o professor de História, Guilherme Degou, depois de cumprirem a pauta, os alunos apresentaram um relatório com suas observações e opiniões pessoais.

Os relatórios foram discutidos durante as aulas de Língua Portuguesa, História, Geografia e Ciências. Segundo Guilherme, a partir desse debate, os alunos perceberam a necessidade de conhecer alguns conceitos pertinentes ao assunto e obter informações complementares sobre o que viram. Como os alunos já sabiam que a idéia era produzir vídeos a respeito da Cidade e da comunidade, surgiu a proposta de fazer um documentário versando sobre os passeios e outro que apresentasse os problemas do bairro e algumas curiosidades.

Problemas não faltaram. Em relação às suas comunidades, as queixas estavam centradas nas áreas de saneamento básico, pavimentação, conservação, sinalização, esporte, lazer, saúde e educação. “Aqui tem muitas praças, mas elas estão quebradas e com muito mato”, reclama Débora, da turma 802. Engrossando o coro dos descontentes, os alunos Isabel e Cleverson reclamam da falta de sinalização nas ruas e avenidas próximas à escola. Entrevistada pelos colegas, a aluna Mirlleide, da 5.ª série, num tom de crítica, destaca o lado “positivo” do bairro. “O que tem de bom são as escolas e o posto de saúde, mas, para conseguir uma consulta, as pessoas têm que madrugar na fila e ainda está arriscado não conseguir o número”.

No entanto, as observações feitas sobre o outro lado da cidade estavam mais voltadas para as diferenças sociais. A aluna Rafaela da Penha, da turma 801, ressaltou que o que mais chamou a sua atenção foram as favelas convivendo com os condomínios de luxo. “Por um lado, havia casas luxuosas, por outro, tinham pessoas morando embaixo da ponte”.

Edição e Criação dos Programas

De posse do material gravado, a professora de Ciências iniciou a edição das imagens. Para o primeiro programa, os alunos escolheram os momentos que mais atraíram suas atenções. O programa foi realizado intercalando as imagens e opiniões dadas por eles. O segundo programa, sobre as comunidades, foi uma mostra dos aspectos negativos e positivos da região. Os dois programas, com duração de 15 minutos cada um, ganharam o nome de Conhecendo para Participar “ e Conhecendo para Participar II.

O que foi trabalhado em cada disciplina

Nas aulas de História, foram trabalhados, entre outros temas, a organização do Estado Republicano brasileiro em diversos momentos, o modelo Federalista e os Três Poderes – sua origem, sua aplicação nos EUA e seu funcionamento no Brasil República. “Os alunos já vinham desenvolvendo pesquisas a respeito da história da cidade e ampliaram este trabalho através de consulta ao Diário Oficial do Município do Rio, observando a divisão do Poder Executivo em Secretarias e suas funções”, destacou o professor Guilherme.

Na disciplina de Geografia, foram vistos os aspectos físicos e humanos da cidade que serviram, inclusive, de referência para o entendimento dos estudos a respeito da África, Ásia e Europa. As idéias de metrópole e de região metropolitana também foram exploradas a partir da observação dos alunos durante o passeio. Algumas questões ambientais como poluição, desmatamento, problemas de moradia e tratamento de esgotos, evidentes nas visitas realizadas, também foram abordadas em aula.

Nas aulas de Ciências, os alunos discutiram as questões ambientais e seus efeitos para a saúde e as condições de vida. Nas aulas de Língua Portuguesa, a professora Dilma orientou a classe na construção dos relatórios e textos de pesquisa. À medida que o material foi sendo produzido, a professora foi trabalhando a comunicação oral e escrita.

Ao ser questionado sobre o resultado geral do projeto, o professor Guilherme Degou argumentou que os professores procuraram deixar os alunos livres para que fizessem suas observações. “Nossa realização está no fato de que os próprios alunos demonstraram ter percebido as diferenças de tratamento ao destacarem a limpeza, a organização, o policiamento e a preocupação com o ambiente que existe na Zona Sul. Também perceberam que, em outras regiões da cidade, existem diferenças sociais gritantes como, por exemplo, as favelas que convivem com os condomínios e casas luxuosas, finaliza o docente”.

Escola Municipal Barão de Santa Margarida
Tel.: (21) 2413-4405