Edição 39 - Aula-Passeio Revela o Rio de Janeiro

Médico, psicólogo e filósofo, o francês Henry (1879-1962) foi um estudioso que se dedicou à compreensão do psiquismo humano a partir de uma perspectiva genética e, reconhecendo na vida orgânica as raízes da emoção, nos trouxe contribuições significativas a cerca dessa temática.

Wallon dedicou grande parte de sua vida ao estudo das emoções e da afetividade, as quais, segundo ele, desempenham um papel fundamental na constituição e no funcionamento da inteligência. Afinal, são elas que irão determinar os interesses e as necessidades de cada indivíduo.

Para ele, deveria existir entre a psicologia e a pedagogia uma relação de contribuição recíproca. Por isso, Wallon propõe um estudo integrado do desenvolvimento tendo como base a emoção, o movimento e a inteligência. Dessa forma, o psicólogo nos leva a uma reflexão sobre nossa prática pedagógica, que deve estar atenta às necessidades afetivas, motoras e cognitivas das crianças.

Emoção – Constitui-se em um dos fatores primordiais no desenvolvimento do indivíduo, pois é através dela que ele exterioriza suas vontades e desejos, o medo, a raiva, a alegria, a tristeza, além de outros sentimentos mais complexos. A emoção tem aspecto relevante na relação da criança com o meio. Segundo Heloysa Dantas, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo , pesquisadora da teoria Wallon há 20 anos, “a emoção é altamente orgânica, altera a respiração, os batimentos cardíacos, o tônus muscular e tem momentos de tensão e distensão que ajudam o ser humano a se conhecer”.

Movimento ­– Para Wallon, o movimento não é puramente um deslocamento no espaço, nem uma simples contração muscular, mas, sim, “um significado de relação afetiva com o mundo”. Além de ser a primeira forma de expressão de comportamento emocional, o movimento torna-se uma estrutura forte de relação entre o indivíduo, o meio e o outro, da qual se consolidará a inteligência. É através do movimento que a criança expressa as suas necessidades.

Inteligência – Wallon realizou estudos com crianças entre 6 e 9 anos e constatou que o desenvolvimento da inteligência depende da maneira como cada uma delas estabelece relações com a realidade exterior. Isso acontece porque, ao mesmo tempo em que suas idéias são lineares, elas se misturam ocasionando permanentes conflitos entre dois mundos: o interior (repleto de sonhos e fantasias) e o real (cercado por códigos, símbolos, valores morais, sociais e culturais). Esses conflitos são essenciais, uma vez que a inteligência só evolui na tentativa de resolução dos mesmos. Por isso, o sincretismo (mistura de idéias num mesmo plano), muito comum nessa fase, é um dos fatores determinantes para o desenvolvimento intelectual.

O Papel da Escola

A Escola, segundo Wallon, precisa ter uma visão clara sobre as dimensões sociopolíticas e desenvolver seu papel de transformação, atendendo paralelamente à formação do indivíduo e da sociedade. Para isso, devemos ter consciência da importância da reestruturação do ambiente escolar como um todo, atentando, assim, para aspectos como espaço, planejamento, conteúdo programático, materiais utilizados, enfim, tudo de que uma escola necessita para ser ativa.

Agitação motora, turbulência, depressão, crises emocionais e desentendimentos entre colegas de classe geram algumas situações e sentimentos de desamparo e falta de direção em muitos professores. As situações de conflito que envolvem professores e alunos já são elementos do cotidiano escolar como exemplos de dinâmicas conflituais.

Alguns sentimentos servem como termômetro para os conflitos existentes neste universo educacional que acompanham o dia-a-dia, como a raiva, a irritação, o medo, o desespero etc. Portanto, para um bom controle de tais situações, o professor necessita de clareza nos fatos que provocam os conflitos, pois, desta forma, maior será a probabilidade de se encontrar caminhos para uma solução.

Para Wallon, a infância e o seu desenvolvimento são um processo cercado de conflitos que resulta das ações da criança e do ambiente exterior, estruturados pela cultura e pelos adultos. Assim, o desenvolvimento do indivíduo é visto como uma construção progressiva em que sucedem fases com predominância afetiva e cognitiva.

A psicogenética walloniana propõe cinco estágios, descontínuos e assistemáticos, para o desenvolvimento da criança:

Estágio Impulsivo – Abrange o primeiro ano de vida. Consiste na preparação das condições sensório-motoras (olhar, pegar, andar). A emoção dá um colorido peculiar a esta fase.

Estágio Sensório-motor e Projetivo – Vai até o terceiro ano de vida. Ao contrário do estágio anterior, neste predominam as relações cognitivas com o meio (inteligência prática simbólica).

Estágio do Personalismo – Abrange a faixa dos três aos seis anos. A tarefa central é o processo de formação da personalidade, definindo o retorno da predominância das relações afetivas.

Estágio Categorial – Inicia-se aos seis anos e traz importantes avanços no plano da inteligência, imprimindo às suas relações com o meio preponderância do aspecto cognitivo.

Adolescência – A crise pubertária rompe a “tranqüilidade” afetiva que caracterizou o estágio categorial e impõe a necessidade de uma nova definição dos contornos da personalidade. Este processo traz à tona questões pessoais, morais e existenciais, numa retomada da predominância da afetividade.

Referência Bibliográfica:

1- GALVÃO, Izabel. Henry Wallon: Uma Concepção Dialética do Desenvolvimento Infantil.
2- DANTAS, Heloysa. A Infância da Razão: Uma Introdução à Psicologia da Inteligência de Henry Wallon.
3- WALLON, Henry. As Origens do Caráter na Criança.
4- WALLON, Henry. As Origens do Pensamento na Criança.
5- TAILLE, Yves de la; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS, Heloysa. Wallon, Vygotsky, Piaget: Teorias Psicogenéticas em Discussão.
6- Revista Nova Escola, ed. 160, março de 2003.
7- http://www.centrorefeducacional.com.br/wallon.htm
8- http://www.navinet.com.br/~gualberto/Wallon.htm
9- http://usuarios.cmg.com.br/~hp-psicologa/trabalhos/trab1.html