Edição 39 - Aula-Passeio Revela o Rio de Janeiro

Por Antônia Lúcia

Trabalhar a região Nordeste, em especial o Estado da Paraíba, e mostrar a sua importância na formação do povo brasileiro e no cenário histórico do nosso país. Esse foi um dos objetivos do Projeto Feira da Paraíba, realizado pelos alunos das turmas de 6.ª série, que, durante uma semana, transformaram o laboratório de Ciências e a quadra de esportes da Escola Municipal Marechal Mascarenhas de Moraes, no Caju, em uma extensão da região nordestina.

De acordo com uma das idealizadoras do projeto, a professora de Geografia Cristiane Tiozzo, a feira começou a ser delineada a partir do projeto político-pedagógico da escola, que tem como missão melhorar a auto-estima dos alunos. “A Feira da Paraíba foi planejada a fim de que os alunos conhecessem um pouco mais dessa região e valorizassem mais as suas origens, uma vez que boa parte dos moradores do bairro do caju são migrantes ou filhos de migrantes nordestinos”, explicou a professora de Geografia.

Fase Inicial

A princípio, a primeira tarefa recebida pelos alunos foi fazer um levantamento, através de pesquisa entre seus próprios parentes, com o propósito de descobrir um pouco mais sobre suas origens e, a partir daí, evidenciar a linhagem da família. Além das entrevistas domiciliares, o trabalho também envolveu pesquisas em cartórios, Internet, dados do IBGE e documentos de registro civil, tais como: certidões de nascimento, casamento e óbito dos familiares.

Numa segunda etapa, orientados pela professora Iata, de Matemática, os alunos deram início à construção de gráficos estatísticos para que, através deles, pudesse ser feita a leitura dos dados. Segundo as professoras Cristiane Tiozzo e Iata, pelo segundo ano consecutivo, a leitura final dos gráficos apresentou o Estado da Paraíba como sendo o representante de boa parte das famílias residentes no Bairro do Caju, incluindo os próprios alunos, seus pais e, principalmente, os avós e bisavós.

Segunda Fase do Projeto

De posse dos resultados, a equipe parte para a segunda fase do projeto. Durante um bimestre, alunos e professores iniciaram uma verdadeira maratona de leitura sobre a história e a cultura nordestinas, desde suas músicas, hábitos alimentares, crenças, festas típicas, literatura, sistema socioeconômico, incluindo o processo migratório que contribuiu imensamente para formar a população e a cultura do sudeste e sua geografia através da interpretação dos mapas.

A etapa prática teve início com a confecção das maquetes dos rios da região, da produção agropecuária, do clima, da vegetação, das festas típicas e da culinária, passando pela confecção dos painéis contendo o histórico do Estado da Paraíba, suas principais cidades e aquelas mais citadas nas origens familiares dos alunos. Para a professora Cristiane, um outro ponto surpreendente foi a desenvoltura dos alunos na criação de repentes e desafios – disputa de rimas entre dois repentistas. “Todos ficaram maravilhados tamanha a criatividade e profundidade das letras dos repentes”, afirmou Cristiane.

O clima do Nordeste toma conta da escola

Durante uma semana, paraibanos ilustres como o Rei do Baião Luiz Gonzaga, Mestre Vitalino e outros foram lembrados e homenageados na Feira da Paraíba. Em uma das apresentações, um grupo de alunos encenou um trecho da obra Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, cujo contexto mostra o roteiro de Severino, um homem do Agreste que viaja rumo ao litoral e se depara, em cada canto, com a morte, presença anônima e coletiva, até que, no último pouso – Recife, o lugar de destino – fica sabendo do nascimento de um menino: sinal de que ainda existe algo que resiste à constante negação da vida .

Outras apresentações teatrais e musicais também marcaram o evento. Entre elas, a encenação de uma peça sobre a história dos migrantes nordestinos no Rio de Janeiro e a apresentação do musical Asa Branca, ocasião em que os alunos cantaram e declamaram a saga do povo do Nordeste, através da música de Luiz Gonzaga. Painéis explicativos, figuras e desenhos mostraram a trajetória e contaram a história de Mestre Vitalino, que, além de ceramista e criador dos famosos bonecos de barro, foi também um excelente tocador de pífanos.

Repentes ou Desafios

Os Repentistas invadem a escola. Acompanhados apenas de uma viola, os repentistas da escola Marechal Mascarenhas deram um show à parte na Feira da Paraíba. Os alunos Jefferson Sales e Francisco Agnaldo fizeram o seguinte repente: “Você me mandou cantar / Pensando que eu não sabia / Pois eu sou que nem cigarra / Canto sempre, todo dia”. Do outro lado, as alunas Kátia Elizabeth, Ariane e Camila Lugão fizeram o seguinte desafio: “Ô, cumpadre, vem cantar / Que eu aqui te desafio / Cantador que ouve meu canto / Fecha a boca e não dá pio”. Segundo os professores envolvidos no projeto, no Nordeste, os cantadores normalmente cantam seus repentes sem acompanhamento musical para dar espaço entre a pergunta e a resposta do outro cantador.

Olê, Mulher Rendeira

Com seus bilros – instrumento usado para confeccionar a renda artesanal – e suas mãos ágeis, as mulheres rendeiras também marcaram presença na Feira. Com a ajuda da comunidade local, os alunos expuseram vários trabalhos de rendas artesanais, roupas, lenços e toalhas, que têm um importante papel econômico nas regiões Norte e Nordeste do país.

Uns receberam a incumbência de interpretar; outros, de fazer coreografias; e alguns, de cantar. Mais um grupo, em especial, recebeu a tarefa de ministrar uma aula explicativa sobre a cultura e as tradições do povo do Nordeste. Quem parou no quiosque do grupo ficou sabendo, entre outras curiosidades, que todo objeto produzido através de métodos caseiros, por uma pessoa ou por um pequeno grupo, feito à mão ou com o auxílio de instrumentos, é considerado artesanato folclórico.

Museu Nordestino

Alicerçado em duas vertentes, artística e cultural, o Museu Nordestino, criado e idealizado pelos alunos da Escola Marechal Mascarenhas de Moraes, fez um verdadeiro sucesso no decorrer da Feira. Constituída principalmente por trabalhos realizados pelos alunos, professores e moradores da comunidade, a exposição destinou-se a mostrar objetos típicos do Estado da Paraíba, como: carrancas nordestinas, garrafinhas de areia, roupas típicas, quadros, instrumentos musicais, artesanatos e vários outros objetos da cultura do Nordeste.

Prato do dia: xinxin de galinha

O melhor da gastronomia nordestina encheu os olhos e o estômago dos participantes da Feira. A turma responsável pela organização do almoço típico fez bonito na cozinha. Aproveitando os alimentos da própria merenda escolar e acrescentando gentis contribuições dos professores e da direção, os alunos prepararam uma refeição tipicamente regional: “xinxim de galinha”, acompanhado de farinha de mandioca, valorizando, assim, o que a cozinha nordestina tem de melhor.

Ao final da feira, um grupo fez um pequeno debate levantando questões críticas sobre a criminalidade, o desemprego, o analfabetismo, a desnutrição, a fome e a mortalidade infantil da região. Questionada sobre a importância do evento para o alunado, a professora Cristiane foi enfática em afirmar que esse trabalho despertou, em toda a comunidade escolar, aquilo que o ser humano tem de mais importante dentro de si: o respeito ao seu semelhante e às suas diferenças.

“Eu só tenho a agradecer a Deus que nos fortaleceu, aos alunos de todas as 6.ª séries, aos professores envolvidos, aos amigos, pais e colaboradores e a toda a comunidade imigrante do Nordeste brasileiro que vem colaborando com seu trabalho nesta cidade que está de braços abertos para todos que queiram sentir o quanto ela é maravilhosa”, concluiu a docente.

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Escola Municipal Marechal Mascarenhas de Moraes
Tel.: (21) 2580-3381