Edição 39 - Aula-Passeio Revela o Rio de Janeiro

Por Simone Garrafiel

Acender uma lâmpada sem utilizar a tomada ou colocar fogo no papel sem ter um palito de fósforo à mão. Impossível? Claro que não! Basta colocar a cabeça para funcionar e descobrir como fazer para que estas situações se concretizem. É assim que os alunos de 1.ª à 4.ª série do Colégio Aldeia Curumim, localizado em Niterói, aprendem Ciências: vivenciando os conceitos, entendo o porquê de cada ação e reação e, o mais importante, esquecendo que existe a famosa “decoreba”. Esta é a essência do projeto Mesa das Descobertas, que proporciona às crianças uma maneira divertida e prazerosa de estudar Ciências através do manuseio de materiais diversos.

Idealizado pela professora Sandra Regina Barreto, após anos de pesquisa e baseado na fundamentação teórica de Montessori, Freinet, Piaget, Vygotsky e Wallon, o projeto é simples, mas traz grandes resultados. “A escolha do nome Mesa das Descobertas surgiu porque arrumamos uma série de materiais em cima de uma mesa, mas, na verdade, o espaço físico não é importante, uma vez que podemos colocá-los em qualquer lugar. O fundamental é que as crianças possam escolher o que querem fazer e descubram livremente o que lhes é proposto”.

A Mesa das Descobertas é o momento em que o aluno procura descobrir como se resolve uma questão que foi levantada, através de materiais como barbantes, canudos, embalagens de refrigerante, pilhas etc. “Eu crio uma série de comandos, os quais podem ser relacionados a um conteúdo ou à dúvida de um aluno. As questões não se esgotam. Basta usar a criatividade e ficar atento aos questionamentos das crianças”, explica Sandra. “Certa vez, havia dois espelhos encostados na parede da sala. Um aluno me perguntou por que ele ficava maior num espelho e menor no outro, já que ambos tinham o mesmo tamanho. A parti daí, surgiu o comando olhe-se nos espelhos 1 e 2, observe a sua imagem e veja o que você conclui”, exemplifica.

O desenvolvimento das atividades do projeto começa com a divisão da turma em grupos. Em seguida, cada um escolhe o comando que quer trabalhar e escolhe o material que acha necessário para realizar a tarefa. À medida que chegam à conclusão, vão trocando e adequando os materiais. “Eles só podem usar o que está disponível na mesa, então, procuro não colocar coisas que interfiram no andamento da execução do comando. Eles não encontram um fósforo, por exemplo, quando o comando pede que eles coloquem fogo no papel”, diz Sandra. O material utilizado geralmente é sucata, e é trocado quando se desgasta ou quando surge um novo comando.

Durante a aula, a professora instiga os alunos a pensar no porquê de cada passo desenvolvido e a questionar os erros quando não conseguem chegar ao resultado esperado. Quando o grupo está com dificuldade de encontrar a solução, ela estimula a tentativa, fazendo perguntas pertinentes ao assunto. “Na ocasião da dúvida sobre a imagem nos espelhos, eu deixei que o aluno descobrisse o que estava acontecendo. Fui estimulando-o a descobrir o porquê daquilo, encaminhando o raciocínio, deixando que ele respondesse e aceitando as respostas, por mais absurdas que fossem, pois, mais tarde, ele concluiu se estava errado ou não. Não tirei a curiosidade dele, porque o ideal é fazer com que os alunos descubram as relações, sintam e interajam com o conhecimento”, explica Sandra.

Depois das atividades, cada grupo se reúne para responder a um questionário, no qual explica qual comando foi trabalhado, que materiais foram utilizados e a que conclusão chegou. Quando não consegue realizar o comando escolhido, o grupo expõe as dúvidas e, em outra aula, retoma o desafio.

A Mesa das Descobertas é a grande paixão dos estudantes. As alunas da 3.ª série Juliana, Carolina, Tereza, Érika e Diane afirmam: “O que gostamos nesta atividade é justamente o fato de descobrir como chegar ao resultado da ficha de comando. Com isso, descobrimos coisas novas”. Sobre as dificuldades, as meninas dizem que poucas vezes não chegaram ao resultado, pois “o mais legal é ficar tentando acertar”.

Para complementar o trabalho, os alunos utilizam o livro “Vivenciando”, que é produzido pelos próprios estudantes. “Eles são os co-autores. Ilustram, pintam e desenvolvem os textos. O livro traz sugestões de atividades ou de pesquisas nas quais eles são levados a concluir o que aprenderam com aquela proposta de trabalho. Não há textos informativos. A idéia é fazer com que as crianças descubram os conceitos”, conclui Sandra.

Colégio Aldeia Curumim
Tel.: (21) 2616-1326