Centro Brasileirinho oferece atendimento psicoterápico a crianças vítimas de maus tratos

Por Leonardo Max

Art. 3.º “A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”.

Com base neste e em outros artigos da Lei 8.060/90 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o Centro Brasileirinho de Atenção a Crianças e Adolescentes Vitimizados vem atendendo a centenas de crianças e adolescentes, da Zona Oeste do Rio de Janeiro, que sofreram abuso sexual, violência física e psicológica, abandono e todo tipo de constrangimento. É um trabalho lento e delicado que visa a cuidar dos traumas oriun-dos dos maus tratos.

Fundador do Centro Brasileirinho, o pedagogo Carlos Wallace Correa de Holanda, ex-interno da Funabem, explica que a entidade oferece atendimento psicoterápico não somente à criança vitimada, mas também psicoterapia e orientação para as famílias desses jovens. Esse atendimento é feito por uma equipe formada por pedagogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos, assistentes sociais e outros profissionais da área humana.

As crianças são encaminhadas pelo Conselho Tutelar, pelas escolas públicas ou pelo Juizado de Menores. Primeiramen-te, a família é ouvida por um assistente social; depois, a criança passa por uma avaliação multidisciplinar – feita por assistente social, psicólogo e pedagogo –, momento em que é identificado se o problema dela se enquadra no perfil do trabalho oferecido pelo centro.

Nos casos de uma avaliação positiva, a equipe do Centro Brasileirinho convida a família a se envolver no tratamento. Tal atitude é fundamental na recuperação do menor, uma vez que cerca de noventa por cento dos maus tratos têm origem na família. Portanto, esse é o primeiro passo dado pelos profissionais no tratamento.

A psicóloga Regina Célia Alves Victoria, responsável pelo setor de psicologia da entidade, explica que a maioria das crianças vieram de um lar confuso e que, por isso, é necessário tra-balhar o problema como um todo. “A criança é apenas o pano de fundo de um problema maior. Dando conforto e tranqüilidade ao adolescente hoje, estaremos cuidando do adolescente do amanhã”, explica a Regina.

A estratégia utilizada pelo Brasileirinho para convidar a família a participar do programa tem como objetivo oferecer atendimento terapêutico aos familiares através de diversas oficinas, como: informática, culinária, beleza e artesanato. Neste período em que a criança está sendo tratada, os pais participam de palestras e aprendem um ofício, o que, segundo eles, muito tem ajudado no complemento das despesas familiares.

Com o envolvimento da família, a criança inicia o tratamento ludoterápico. Regina Célia esclarece que a ludoterapia é a linguagem que o psicólogo se utiliza para ter acesso às questões internas da criança, que expressa suas dificuldades através de jogos e brincadeiras.

Quando os psicólogos percebem que a criança está melhor estruturada, já podendo caminhar sozinha, parte-se para o terceiro passo, que consiste num trabalho de desligamento, visando à alta. Regina Célia explica que é um trabalho delicado e feito a longo prazo para que a criança não se sinta rejeitada.

“A cura total não existe, pois a criança carrega o trauma adquirido para o resto da vida e sua personalidade já está formada. Então, o que fazemos é equilibrá-la emocionalmente para que ela possa caminhar de forma saudável na nossa sociedade. Lapidamos sua personalidade a fim de que ela possa conviver com seus traumas”, finaliza Regina.

Centro Brasileirinho
Tel.: (0xx21) 3331-4424