Projeto de Geografia ajuda alunos a compreender as diferenças sociais e promove integração entre as escolas

Por Cláudia Sanches


Por que existe a miséria? Por que a discriminação por raça, sexo ou credo? Qual é a razão dos preconceitos sociais? Todas essas perguntas, feitas diariamente nas escolas por milhares de crianças, são respondidas com a ajuda do Projeto Integrado entre Escolas de Belford Roxo.

Planejado pelo professor de Geografia Lucivaldo Dias, o trabalho reuniu as turmas do Ensino Fundamental e do Ensino Médio da Escola Municipal Rudá Iguatemi Villanova, do Colégio Estadual Bairro Nova Aurora e do Ciep Maria Alves de Souza, localizados no Bairro Nova Aurora, uma das comunidades mais carentes do município.

Idealizado com o objetivo de levar o aluno a entender por que um país rico como o Brasil e um continente como a África têm um número tão grande de miseráveis, o projeto consistiu na apresentação de seminários sobre os temas A Miséria, A Questão do Índio no Brasil e A Paz.

Para Lucivaldo, a idéia não é só passar conteúdos da disciplina, mas também uma oportunidade para integrar os alunos, as famílias e as instituições de ensino da região. O projeto teve sua culminância realizada no dia Nacional da Família na Escola. A idéia foi mostrar aos pais o que os filhos fazem de bom, uma vez que eles só são chamados para receber queixas dos mesmos, brinca o professor, que aproveitou a chance para comemorar a data.

O primeiro passo foi dividir os alunos em equipes e escolher uma das três escolas para ser a sede da apresentação dos seminários: A escolhida foi a Bairro Nova Aurora por ser a escola-pólo da região, explicou a coordenadora pedagógica Mariza Déia Sanches, que trabalha desde 1995 com projetos pedagógicos extracurriculares. Segundo os orientadores, antes da implantação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a equipe já desenvolvia esse tipo de projeto interdisciplinar, buscando a integração entre os professores e suas respectivas disciplinas.

Na segunda etapa, foi realizado um debate com as turmas em sala de aula. Para introduzir as discussões, o professor criou um ponto de partida: utilizou várias linguagens, desde textos jornalísticos sobre os temas escolhidos até obras de arte e vídeos. Em seguida, os estudantes caíram em campo: com assistência dos professores de outras disciplinas, eles pesquisaram nas bibliotecas públicas, na escola, em materiais jornalísticos e na Internet.

O professor recorda que as reportagens mais complexas eram lidas por partes, junto com as crianças: “Parávamos para procurar as palavras que não conheciam, como, por exemplo, paradoxo, e eles iam pesquisar no dicionário. Não faltaram dificuldades, já que a clientela da escola é muito carente e não possui computador, mas nada impediu a realização dos seminários. O trabalho durou quatro meses e, em maio, o professor ensaiou a apresentação com os alunos.

Culminância

Dia quatro de junho, onze e meia da manhã, muita movimentação na Escola Estadual Bairro Nova Aurora. A apresentação, marcada para as 13 horas, estava prestes a começar. No meio desse entra e sai, alunos com os uniformes das outras escolas circulavam pelos corredores e salas de aulas com cartazes, material impresso, mensagens de paz. Outros liam pela última vez os textos sobre os assuntos que iriam apresentar.

Cada sala era reservada para um grupo e contava com a presença de um professor de outras disciplinas para avaliar cada participante. Segundo Lucivaldo, os critérios da avaliação foram a pesquisa, que levou em conta o domínio do tema, o desempenho oral e a confecção do material visual.

Todas as palestras aconteceram simultaneamente e, no final das apresentações, cada grupo prestou uma homenagem aos pais, lendo uma poesia, um texto produzido por eles ou distribuindo brindes confeccionados com material reciclado. Para o corpo docente das escolas, a avaliação vai bem mais além do desempenho dos pequenos palestrantes no evento. “Presto muita atenção na participação de cada estudante no dia-a-dia da sala de aula. Mais do que isso, eu sinto que eles se tornam mais críticos e questionadores. Eles compreendem a razão das diferenças, das discriminações, e se aproximam mais do corpo docente”, comemora o professor.

Outro objetivo do trabalho, lembra a coordenadora, foi mostrar aos professores, daqui ou de outras instituições, que é possível promover mudanças, tornar alunos e professores mais participativos a partir de metodologias de ensino mais dinâmicas com atividades mais prazerosas e nem por isso menos expressivas dentro do conteúdo didático.

“Uma coisa é muito clara para todos: após esses anos de projetos, os alunos se tornaram mais críticos, expressivos e autoconfiantes. A evasão escolar também diminuiu porque estamos fazendo uma escola mais adequada a essa clientela da região”, conclui a coordenadora.

Colégio Estadual Bairro Nova Aurora
Tel.: (0xx21) 2668-1467 / 2695-5356