Psicóloga e pesquisadora argentina, doutorou-se na Universidade de Genebra, sob a orientação de Jean Piaget, que ainda não tinha se aprofundado nesse campo: a escrita. Atualmente, é professora do Centro de Investigação e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional, na cidade do México, onde reside. Emilia Ferreiro já veio ao Rio de Janeiro em algumas ocasiões históricas: em dois congressos piagetianos em 1981 e 1984; em um seminário a convite da Secretaria Extraordinária de Educação; em duas conferências na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), em 1987 e 1991; e, em 1995, recebeu pela Uerj o título de Doutor Honoris Causa. Em 2001, ela esteve presente na Casa da Leitura e na Uerj, dando uma palestra sobre o processo de aprendizagem. Na concepção de Emilia, identificar o que os alunos já sabem, antes de iniciar o processo de alfabetização, é fundamental. Este é um preceito básico do livro Psicogênese da Língua Escrita, que Emilia escreveu com Ana Teberosky em 1979. A obra é um marco na área e mostra que as crianças não chegam à escola vazias, sem saber nada sobre a língua. De acordo com a teoria, toda criança passa por quatro fases até que esteja alfabetizada:
Emilia Ferreiro aprofunda um aspecto importante no processo de construção da leitura e escrita: problema cognitivo envolvido no estabelecimento da relação entre o todo e as partes que o constituem. A educadora explica que a criança elabora uma série de hipóteses trabalhadas através da construção de princípios organizadores, resultados não só de vivências externas, mas também de um processo interno. Mostra também como a criança assimila seletivamente as informações disponíveis e como interpreta textos escritos antes de compreender a relação entre as letras e os sons da linguagem. |
A escrita pode ser considerada como uma representação da linguagem ou como um código de transcrição gráfica das unidades sonoras. A invenção da escrita foi um processo histórico de construção de um sistema de representação, não um processo de codificação. Emilia acredita que se atuando de forma inteligente, a alfabetização pode ser feita aos cinco, aos seis ou aos sete anos, e que isso se dá de uma forma natural, ou seja, um aprende mais; o outro, menos, mas é preciso dar a oportunidade para o aprendizado. É bom o educador ler em voz alta em suas turmas, ainda mais quando estas forem carentes, vindas de lugares onde há poucas pessoas letradas. Segundo Emilia Ferreiro, o texto, no entanto, tem de ser bom e lido com convencimento. Para ela, esse aluno de seis ou sete anos vai presenciar um ato quase mágico, vai escutar um idioma conhecido e, ao mesmo tempo, desconhecido, porque a língua, quando escrita, é diferente. Portanto, essa maneira de trabalhar seria muito melhor do que usar as cartilhas e as famílias silábicas. Certa vez, um editor brasileiro me acusou de estar arruinando o negócio de cartilhas, e parece que ele tinha razão. Se tenho mesmo relação com a queda na produção desses livros, estou muito orgulhosa. Eles eram de péssima qualidade, horríveis, assustadores. Eram pura bobagem. Apesar disso, há vinte anos parecia um sacrilégio, no Brasil, dizer que a família silábica não era a melhor maneira de trabalhar. Tenho a impressão de que isso mudou e de que esse é um caminho sem volta. Para ensinar a ler e escrever é necessário utilizar diferentes materiais. Um livro só não basta. É preciso utilizar livro, revista, jornal, calendário, agenda, caderno, um conjunto de superfícies sobre as quais se escreve. A maneira como um jornal é redigido não é a mesma que se encontra num livro de Geografia ou História., afirmou Emilia numa entrevista concedida à Revista Nova Escola.
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