Edição 27 - Educação: Ferramenta Eficaz Contra o Preconceito e a Discriminação
Maria Montessori nasceu em 31 de agosto de 1870 na pequena cidade de Chiaravalle, no leste da Itália. Filha única de Alessandro Montessori e Renilde Stoppani, era neta do famoso geólogo e naturalista Antônio Stoppani. Seu grande senso de dever, sua natureza assertiva, suas fortes convicções e a forma vigorosa de expressá-las rendeu-lhe, ao longo da vida, muitos seguidores e vários opositores.
A educadora construiu sua história pessoal, intelectual e científica dedicando-se, por mais de meio século, ao estudo e à pesquisa do mais fundamental e difícil problema do homem a sua formação , porque considerava que só através dela seria possível agir diante de questões decisivas da vida: sua conservação e seu desenvolvimento.
Até sua morte em 6 de maio de 1952, então com 81 anos, viveu, de maneira concreta e apaixonada, a história de seu próprio tempo, imersa na sua luta e na sua conquista, concebendo e experimentando novas alternativas, contestando as tradições e os dogmas, lançando-se com coragem às novas necessidades e às novas perspectivas da Educação, da Criança e da Humanidade.
Sistema
Um sistema é definido pela relação de suas partes.
Especificamente na Educação Montessoriana, não são a filosofia ou a metodologia tratadas individualmente que nos darão a possibilidade de entendê-las. Por constituírem-se em partes, são ordenadas hierarquicamente, no entanto, mesmo com fronteiras claras que protegem a função de cada uma, estão a serviço e em sintonia com o todo.
Ao contrário de outros pesquisadores educacionais, a Dr.ª Montessori desenvolveu um método pedagógico para colocar em prática sua filosofia. Entendia por Autoconstrução a formação da estrutura do ser humano como fruto de uma força interior, que se realizaria sob a influência do meio e dos períodos de desenvolvimento. Estes períodos, de características próprias, foram por ela assim definidos:
1.º Período Do nascimento aos 6 anos: A criança realiza sua própria construção através da exploração e da absorção do ambiente que a circunda. Sua inteligência labora em função do externo e das relações superficiais existentes entre os objetos e suas qualidades. É um período essencialmente sensorial
2.º Período Dos 6 aos 12 anos: Nesta fase, o jovem é capaz de relacionar os fatos à luz da razão, preocupando-se com o como e com o porquê das coisas. É a entrada no mundo da abstração.
3.º Período Dos 12 aos 18 anos: O mundo passa a interessá-lo sob um ponto de vista diferente: procura aquilo que deve fazer, ou seja, desperta para o problema das causas e dos efeitos.
Entendendo a Educação como ciência, defendia que esta resultaria de uma pedagogia científica que fosse capaz de respeitar as leis do desenvolvimento da criança e suas fases evolutivas. E, por fim, em Educação Cósmica, fazia referência ao respeito às leis estabelecidas na estreita relação entre natureza, vida e sociedade humana, reconhecendo que é a tarefa cósmica de cada ser que mantém a harmonia da vida, tornando possível a evolução.
Maria Montessori era médica e isso lhe permitiu abordar a Educação com a visão não só de filósofa ou educadora no sentido da palavra, mas sim, de verdade científica. Para ela, a sala de aula era uma espécie de laboratório que possibilitava observar as crianças, testar e retestar a validade de conceitos e práticas que pudessem ajudar as crianças no seu crescimento integral.
A Dr.ª Montessori jamais considerou sua obra concluída, ao contrário, manifestou a expectativa de vê-la continuada e acrescida... Se a ciência começasse a estudar os homens, conseguiria não só fornecer novas técnicas para a educação das crianças e dos jovens, mas chegaria a uma compreensão profunda de muitos fenômenos humanos e sociais que estão ainda envolvidos em espantosa obscuridade. A base da reforma educativa e social, necessária aos nossos dias, deve ser construída sobre o estudo científico do homem desconhecido.
Esta seria a tarefa inevitável dos que a sucederiam: realinhar suas propostas à luz dos eventos intelectuais, culturais e científicos subseqüentes. Esta é a nossa tarefa!
Metodologia de Montessori
Ao considerar as crianças um grupo social de enormes dimensões e uma verdadeira potência no mundo, Montessori deixou, por onde passou, sua certeza de que era na criança que residia a esperança da construção de um mundo melhor.
Ao Homem, dizia ela, cabe a imensa tarefa de continuar em conjunto o trabalho da criação, descobrindo, com sua inteligência, as inúmeras e infinitas possibilidades que a natureza lhe oferece, e, desta forma, recriar e proteger seu meio cultural. Com este espírito, lançou-se ao estudo científico das crianças, de sua personalidade e de seu desenvolvimento psíquico.
Descobrir a importante função da criança na formação da personalidade humana foi, antes de tudo, o resultado de uma observação cuidadosa e sistemática do comportamento infantil, em um ambiente preparado para atendê-la um experimento científico desempenhado por uma mente científica.
Dizia não ter feito outra coisa se não estudar as crianças, acolhendo e buscando significado àquilo que lhe davam: Sou apenas a intérprete das crianças.
Contudo, foi uma conquista de Montessori ter criado condições que permitissem às crianças manifestar suas ações de acordo com suas necessidades internas. Ela analisou cientificamente a personalidade da criança, sua capacidade de experimentar as possibilidades de seu desenvolvimento psíquico e intelectual, a sua natureza e o período da mente absorvente.
A educadora argumentava que o objetivo da Educação jamais poderia ser encontrado fora da criança, ao contrário, devia ser buscado dentro dela, na força que impulsiona e sustenta todo o seu trabalho de Autoformação e Construção. À Educação, então, caberia a tarefa de favorecer, no seu sentido mais completo, o desenvolvimento do potencial criativo, da iniciativa, da independência, da disciplina interna e da confiança em si mesmo.
É importante lembrar que o enfoque da Educação Montessori é sempre indireto, e nunca direto, ao contrário da Educação tradicional. O respeito da Dr.ª Montessori pela formação da criança, desde a sua concepção, levaram-na ao cuidado de não interferir diretamente no seu desenvolvimento.
A Filosofia de Montessori
A Filosofia Montessoriana deve ser reconhecida por ser um começo, a busca de respostas para a educação e a vida da criança. Partindo de suas experiências, e não das nossas, representa a base para a construção da Educação do futuro.
Considerando as grandes possibilidades existentes na criança e a sua enorme importância para a humanidade, Montessori passou a examiná-la mais de perto, buscando um modo de contribuir para o seu desenvolvimento. Tinha uma certeza: devia ser criada uma ciência prática para ajudar esta capacidade potencial.
O fruto de suas observações a faz pioneira ao reconhecer que:
1- é agindo que a criança adquire conhecimentos.
2- através de uma ordenação de atividades de dificuldades gradativamente crescentes, a aprendizagem se estabelece com maiores possibilidades de sucesso.
3- a autoconfirmação imediata dos resultados do trabalho é garantia de uma aprendizagem eficiente.
4- intervenções indevidas dos adultos comprometem a aprendizagem.
5- cada aprendiz tem um ritmo próprio que deve ser rigorosamente respeitado.
6- certos comportamentos, particularmente o de observação, tornam aprendizagens posteriores possíveis ou mais fáceis de serem adquiridas.
7- certas aprendizagens podem ocorrer muito mais cedo do que o habitualmente previsto.
Para garantir a prática de seus pressupostos, Montessori pensou numa escola nova:
a) que oferece aos seus aprendizes um ambiente preparado com materiais de desenvolvimento de características bem definidas, permitindo à criança chegar, gradualmente e de acordo com seu ritmo, à conquista de novos conhecimentos.
b) com educadores e educandos desempenhando simultaneamente o papel de observadores e participantes, num contexto de relações interpessoais baseadas no respeito mútuo e na confiança.
c) com atenção especial à Educação social, dando orientações para a inclusão de crianças de diferentes idades numa mesma classe. Uma comunidade que se forma no exercício do equilíbrio entre a liberdade individual e a necessidade do grupo.
Desta forma, Montessori assegura que crianças e jovens, em todos os níveis de desenvolvimento, preparem-se para participar da sociedade na qual, mais tarde, terão que encontrar seus lugares como adultos responsáveis, generosos, competentes, críticos e independentes.
Esta é a maior tarefa da Escola... Constituir-se numa verdadeira ajuda à vida.