Que país é esse?” É o que se perguntam os alunos e professores do Ciep Gustavo Capanema, em Bonsucesso, que participam, na escola, do projeto que leva nome da música da banda de rock Legião Urbana, inspirado nas comemorações pelos 500 anos do Brasil, desde o descobrimento, e criado para fazê-los repensarem o país.

O projeto surgiu neste ano, quando a escola promoveu um concurso de projetos voltado para os professores da casa. O trabalho escolhido deveria ser multidisciplinar, isto é, envolver e associar as diversas matérias do currículo escolar. O vencedor receberia um prêmio: a implantação, no CIEP, do que havia proposto.

O projeto vencedor, de autoria da professora da terceira série, Janete Trajano, partia de um questionamento: “temos que comemorar os 500 anos do Brasil?” A idéia era de que, para se responder à pergunta, seria preciso recorrer a todas as áreas do conhecimento – daí a multidisciplinaridade do projeto – e saber, também, “Que país é esse?”

Para analisar o tema em toda a escola, da Alfabetização à quarta série, e nas turmas de educação juvenil, que têm aulas à noite, a professora Janete Trajano dividiu o projeto por faixas etárias e o esmiuçou em subtemas.

O primeiro subtema foi “500 anos, temos que comemorar: Brasil cantado e encantado pelo seu folclore”, desenvolvido nas turmas de Alfabetização. “A proposta era trabalhar com repertório de cantigas populares, de ninar e lendas, adequado ao trabalho com crianças menores, associando-o a atividades como dança, canto e expressão corporal, além de explorar a riqueza folclórica e resgatar as tradições regionais de nosso país”, explica Janete, que aproveitou a dobradura do chapéu do Saci-Pererê para apresentar as formas geométricas às crianças.

Para a segunda série, a professora criou o subtema “Brasil mostra tua cara”. A idéia era ver e rever o país através de seu povo. “Os alunos observaram, em trabalhos de aquarela, as cores dos homens que fizeram e fazem a história do país. A partir de então, começou-se a trabalhar as cores com os alunos”, diz Janete, que utilizou filmes, jornais, revistas e enciclopédias para atingir sua meta.

As crianças também foram levadas a perguntar a seus pais e avós sobre a origem de seus antepassados e as lendas que contavam, muitas vezes trazidas à sala de aula pelos alunos. “A finalidade era não só conhecer o nosso povo, mas também aprender a reconhecê-lo e amá-lo como nação”, diz a professora Rosane Borges, que também abordou a Matemática, por meio de estatísticas, quando se tratou de contingente populacional.

O subtema “Brasil cantado em prosas e versos” coube às turmas de terceira série. Elas estudaram o país através de seus escritores, poetas, cineastas, entre outros artistas. Os estudantes realizaram leitura de textos e imagens, produção textual, recriação de imagens e estórias, análise e comparações de poesias, prestando atenção a conteúdos de História e conceitos de Matemática e Geometria. Depois, produziram um livro sobre as diferentes faces do Brasil e uma coletânea de fotografias de diferentes personalidades do país, tais como atletas, políticos, artistas e trabalhadores.

A obra Abaporu, de Tarsila do Amaral, serviu para que Janete, professora da terceira série, explorasse a pintura sob vários pontos de vista. “Com base em uma discussão sobre o que os alunos percebiam na pintura, conversamos sobre migração, arte, tempo, história, movimentos literários, e perspectiva. À medida que os questionamentos iam sendo analisados, o conhecimento ia sendo construído. A idéia da multidisciplinaridade era concretizada” – disse Janete.

O subtema “Brasil em fatos e fotos” norteou os trabalhos na quarta série, que fez leituras de imagens de paisagens da cidade, do cotidiano, para construir conhecimentos. Flagrantes do dia-a-dia possibilitaram a abordagem de temas como violência e drogas.

Para lidar com turmas de educação juvenil e adultos, Janete levou em consideração o fato de que esses alunos foram excluídos do processo educacional e criou aulas e abordagens mais reflexivas, sobre o subtema “Brasil na era da Globalização”. Os alunos analisaram a Economia do Brasil na era da globalização, a população à margem do processo, informação, alimentação e padrões de beleza estabelecidos no novo contexto. Durante a análise, tiveram oportunidade de exercitar seu senso crítico e resgatar e valorizar sua cultura e seus valores.

O trabalho, executado durante o primeiro semestre do ano letivo, já rendeu produção de pequenos livros, mostras de arte, coreografias, apresentações de danças folclóricas abertas à comunidade local e eventos realizados nas diversas turmas. E, agora, desmembra-se em outro projeto, “Que Ciep é esse?”, resultante dos questionamentos dos alunos, hoje, mais maduros e reflexivos.

A coordenadora pedagógica da escola, Flora Machado, está satisfeita com os resultados. “O maior mérito do ‘Que país é esse’ é ser de todos, e não apenas do professor que o idealizou. Ele foi eleito por voto. Portanto, passa a ser da comunidade, porque nele tomam parte estudantes, professores, pais e funcionários” – diz ela.

Janete também só tem motivos para comemorar. “Na medida em que se fala dos conflitos do Brasil, a gente fala dos nossos conflitos internos e há um amadurecimento nas relações. Hoje, na sala de aula, conversamos sobre tudo. Conseguimos, também, despertar a sensibilidade do aluno para todas as formas de conhecimento e Arte. Ele está consciente da existência de uma diversidade de maneiras de expressão”, afirma ela, enquanto sonha com o dia em que os pequenos brasileiros serão cidadãos de verdade, críticos, atuantes e conscientes de sua realidade.

CIEP Gustavo Capanema
Flora Machado
Tel: (0xx21) 290-0588

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