As coloridas cápsulas são sedutoras: um elixir de saúde e vitalidade parece estar contido nessas maravilhas. Mas será que sua alimentação já não fornece o que seu corpo exige?

Cristina Nabuco

As vitaminas são essenciais à saúde. Participam de vários processos orgânicos, conseguem deter os radicais livres – moléculas instáveis e agressivas que "enferrujam as células" e contribuem para o envelhecimento precoce e o aparecimento de doenças. Desde a Pré-História, o homem recebe esses aliados nas suas embalagens naturais: os alimentos. A questão é se uma pessoa saudável precisa do auxílio de doses extras de vitaminas para proteger as células, pois, quando surge doença associada à carência, os especialistas são unânimes em recomendar os suplementos.

"A suplementação aumenta a qualidade de vida", opina o médico homeopata Silvio Laganá de Andrade, especialista em Nutrologia Médica e diretor do Anti-Stress Performance Institute, em São Paulo. "Por melhor que seja sua alimentação, sempre pode faltar alguma coisa." Segundo ele, com o passar dos anos, pode haver uma queda na capacidade digestiva que reduz a absorção de nutrientes. Privadas desses elementos, as células podem passar muito tempo em silêncio até surgirem infecções repetitivas, cansaço e perda de energia – sinais clássicos do déficit de vitaminas.

 

Efeito psicológico

Nem todos os médicos compartilham essa visão.

"Uma dieta equilibrada supre as necessidades diárias de vitaminas", garante o geriatra Wilson Jacob Filho, professor-doutor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP. Contrário à idéia de que o uso de vitaminas se torna obrigatório em certas etapas da vida, como a gravidez ou a velhice, o professor diz que o climatério não deve ser entendido como doença; portanto, não merece terapia de suplementação. "Hoje, nem os pediatras as receitam de rotina. Só indicam suplementos quando a falta de vitamina é constatada por meio de exames", diz. "Boa alimentação, atividade física regular e equilíbrio emocional são mais eficientes do que tomar vitaminas em cápsulas."

Embora julgue desnecessário o uso de complementos por quem segue uma dieta variada, o médico gaúcho Irajá Heckmann, coordenador de Geriatria do Hospital Virtual Brasileiro (www.hospvirt.org.br/geriatria), reconhece que as cápsulas podem ter um efeito psicológico importante: "Quem pede vitaminas está motivado a cuidar da saúde. Estimulo hábitos saudáveis, alimentação rica em frutas e verduras e, às vezes, prescrevo o complexo vitamínico, já que mal não faz".

Saiba usar

O fundamental para a pessoa acima de 40 anos é comer de tudo, em quantidades mais modestas e de maneira fracionada (várias pequenas refeições ao dia) para evitar o ganho de peso, ensina o geriatra Clineu Almada, diretor- científico do Centro de Estudos do Envelhecimento da Universidade Federal de Medicina de São Paulo/ Unifesp. Ele admite o uso preventivo de vitaminas, com as seguintes ressalvas:

1 – Orientação adequada. Embora elas tenham venda livre, se o usuário não observar horários, quantidades e tipos de vitaminas que toma, poderá não só jogar dinheiro fora, mas prejudicar sua saúde.

2 – O uso de vitaminas requer acompanhamento clínico e laboratorial para ajuste de doses. Este é outro motivo de controvérsia. Os médicos ortomoleculares costumam solicitar omineralograma em fios de cabelo, eficaz para analisar a contaminação por metais tóxicos, mas discutível quanto à possibilidade de estimar as taxas de minerais em circulação no organismo. O mais confiável é o exame feito numa gota de sangue para avaliar o nível das substâncias antioxidantes (entre elas, as vitaminas). Essa investigação aponta a necessidade ou não de suplementos e permite um planejamento individual para se obterem melhores resultados.

3 – A suplementação sem uma alimentação adequada parece não resolver. Novos estudos mostram que os alimentos são ricos em outros compostos, como os fitoquímicos (presentes nas frutas e nos vegetais), que protegem contra doenças, inclusive o câncer. Quem não capricha na dieta pode estar perdendo esse arsenal.

Não leve ferro

O que é melhor, tomar a vitamina isolada ou um desses coquetéis à venda no mercado? "Se a dieta for precária e não houver sintoma de carência específica, o multivitamínico garantirá um suprimento mínimo de nutrientes", responde o dr. Irajá Heckmann. Os tabletes fornecem doses baixas de vitaminas e minerais, o mínimo para não se ficar doente. O multivitamínico também pode ser útil em fases de emagrecimento, quando o regime escolhido for drástico. "Se a pessoa segue uma orientação dietética racional e pretende se prevenir combatendo os radicais livres, é preferível a suplementação isolada de vitamina", completa o Dr. Clineu Almada.

A menos que haja indicação médica, deve-se evitar os multivitamínicos que prometem doses extras de ferro ou de qualquer outro composto. É arriscado utilizar suplementos de ferro, cromo, zinco ou selênio, pois eles interagem num delicado equilíbrio e o excesso de um pode prejudicar a absorção do outro. O consumo de cálcio, por exemplo, pode levar à queda no nível de magnésio, levando a pessoa a ter risco de insônia, aumento na pressão arterial e arritmia cardíaca.

Matéria extraída da Revista Bárbara nş 50, de maio de 2000

 

O ABC das Vitaminas

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