Professora discute questões geopolíticas Utilizando, em sala, filmes comerciais

Valorizar e enriquecer o processo educacional são as metas principais e desafiadoras do novo modelo de Educação no Brasil. Para alcançá-las, professores recorrem a novas formas de ensino, capazes de proporcionar aos alunos um aprendizado mais eficaz. Exemplo disto é a utilização de recursos audiovisuais, como o videocassete, em aulas baseadas no enredo de filmes, ditos comerciais. A professora Luíza Mattos, do Colégio São Vicente de Paulo, no Cosme Velho, engajada no "Projeto Cinema", desenvolvido nas aulas de Geografia para as turmas do 2º ano do Ensino Médio, garante, melhor que ninguém, a eficácia do método.

Com o tema "A Nova Ordem Mundial - uma Discussão Geopolítica", o Projeto Cinema é a "espinha dorsal" das suas aulas de Geografia. "Não utilizamos livros didáticos. Eles servem apenas para pesquisa. Nossa grade curricular é baseada na seqüência de roteiros dos filmes selecionados" - explica Luíza. Segundo ela, é analisando os filmes que os alunos percebem que a Geografia contribui para a formação deles como cidadãos e para que tenham capacidade de fazer uma leitura crítica de mundo.

Os primeiros passos de Luíza na implantação do projeto são fazer a seleção de filmes, de acordo com o trabalho pretendido, e relacionar os temas abordados em cada um (ver tabela abaixo). Assim, para o entendimento do tema "Globalização", por exemplo, são discutidos os filmes "A Rede" e "Assédio Sexual". No caso de cada filme, a professora prepara um roteiro para os alunos e formula questões que deverão ser discutidas por eles. "Eu busco as situações de vida e da sociedade para trazer aos alunos um conteúdo engajado e, eles percebem que os filmes têm um sentido real e social. No decorrer das atividades, buscamos analisar os temas e transferi-los para realidade do mundo" - diz ela.

Quando elabora os roteiros, Luíza procura situar os alunos no contexto apresentado. Assim, no estudo do filme "A Casa dos Espíritos", por exemplo, cujo tema abordado é o processo político dos últimos 50 anos no Chile, ela faz um breve histórico do país e conta a história de como transcorreu a ditadura. Dentre as questões encontradas no roteiro, inclui-se: "a relação autoritária do 'senhor de terras' que tanto conhecemos nos latifúndios brasileiros, também está presente em outros países da América Latina. Como e quando isso foi mostrado no filme?", e "Pesquise e descubra como foi o governo de Augusto Pinochet, como se deu a transição democrática e como, hoje, se encontram a economia e a sociedade no Chile".

Em sala de aula, a turma é dividida em grupos e cada um, escolhe com qual filme quer lidar e se quer vê-lo em casa ou em sala de aula. A professora só pede aos grupos que vejam filmes diferentes, para que haja a troca de informações, e que se reúnam para assistir às fitas, pois a discussão ficará mais enriquecida. "O objetivo é que eles desenvolvam o espírito de reflexão e de debate" - explica. Luíza também utiliza outros recursos, como mapas e transparências, para estimular a curiosidade das turmas e ilustrar o assunto que está sendo abordado.

Após terem visto os filmes, discutido os temas e respondido às questões do roteiro, os grupos reúnem-se em sala de aula para uma discussão coletiva, mediada pela professora, que procura instigar os questionamentos e adequar estratégias de trabalho. "Se a turma ficar tímida diante da atividade, busco apenas seguir a seqüência do roteiro. Caso contrário, estimulo a polêmica" - explica Luíza. Realizando o trabalho, é possível perceber se há reflexões e opiniões que divergem ou convergem entre os alunos. "Sinto que eles têm prazer em estar discutindo as coisas que acontecem no mundo, a realidade que os cerca" - orgulha-se.

No final do ano letivo, os alunos preparam um arquivo com todo o material que foi produzido, incluindo os roteiros, os textos analisados em sala de aula, recortes de jornais, xerox de livros e os trabalhos que fizeram no decorrer do ano. O arquivo passa a ser um livro de estudos, que eles utilizam como fonte de pesquisa no 3º ano.

Segundo a professora, graças ao Projeto Cinema os alunos se capacitam a entender o Brasil e, também, aumentam sua bagagem cultural após lidarem com linguagens diferentes, transparências, relatórios, discussões, reflexões e leitura de livros. "É muito bom ensinar com o auxílio de filmes, promovendo interação e tornando os conteúdos mais palpáveis e compreensíveis" - finaliza Luíza.

Abaixo, a relação de filmes que podem ser abordados em sala de aula e temas aos quais podem ser associados:
· A Rede
· Assédio Sexual
· Globalização
· Faça a Coisa Certa
· Irmãos de Sangue
· Racismo
· Drogas
· Morango e Chocolate
· Casa dos Espíritos
· Homossexualismo
· Situação política em Cuba
· Processo político dos últimos 50 anos no Chile

· Em Nome do Pai
· Queridas Amigas

· Irlanda do Norte
· Desarticulação do Leste Europeu
· Um Grito de Liberdade
· Bhopa - A Flor da Pele
· África - situação econômica e racismo
· Sonhos
· Tampopo, os Brutos Também Comem Spaguetti
· Japão - cultura tradicional X impacto da modernização
· Tempo de Viver
· Cidade da Esperança
· História e cultura chinesa · Situação política, econômica e social da Índia
· Hanna K
· Nunca sem Minha Filha
· Oriente Médio
· Palestinos X judeus

 

Colégio São Vicente de Paulo Profª Luíza Mattos Tel: 556-0796

 

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