Professor de Educação Física ensina alunos a modificarem regras de jogos e criarem novas atividades esportivas

Katia Machado

Você já arremessou uma bola de basquete em uma cesta montada com pneus de carro empilhados no chão? Já misturou as regras dos jogos de pique-bandeira e handebol? Parece estranho, mas estas são algumas das modificações feitas em jogos tradicionais pelo professor de Educação Física e pós-graduado em Psicomotricidade, Eduardo Carvalho, para chamar atenção de seus alunos, fazê-los participar efetivamente da aula e ensinar-lhes a criar novos jogos ao longo do ano.

Há oito anos em prática, o trabalho faz parte do projeto "Criação e Prática de Jogos", de autoria de Eduardo, com o qual o professor ganhou o prêmio Victor Civita, Professor Nota 10, de 1999. Pondo em prática o projeto, Eduardo lança mão de jogos esportivos tradicionais, como futebol, vôlei e basquete, e apresenta brincadeiras do universo infantil, como queimado, amarelinha e pique-bandeira. E ainda propõe aos alunos a modificação nas regras dos jogos mais conhecidos e a criação de outros. Para ele, os esportes tradicionais acabam fazendo com que alguns alunos sejam excluídos, principalmente os obesos, os menos habilidosos e os que não gostam de atividades físicas. "Isto dificulta o desenvolvimento de determinadas habilidades importantes para a criança", lamenta.

Desenvolvido com os alunos do Ensino Fundamental do Centro Educacional Anísio Teixeira (CEAT), no bairro de Santa Teresa, na zona central do Rio de Janeiro, o projeto tem por fim fazer com que a criança perceba que não só existem atividades prontas de que ela fará parte, mas que ela pode criar suas próprias práticas esportivas. Desta forma, o projeto está em sintonia com a filosofia da escola: fazer com que as crianças tenham uma visão reflexiva das próprias práticas e se tornem agentes das atividades escolares.

Ao permitir que o aluno construa uma atividade de acordo com seu próprio conhecimento, esteja este no estágio em que estiver, Eduardo se posiciona na vanguarda da Educação, contribuindo para que a escola faça do aluno um cidadão capaz de interferir no universo escolar e aperfeiçoar sua realidade. "Quando o aluno aprende a intervir em regras e criar novas práticas esportivas, ele torna o jogo melhor para ele", esclarece o professor. Desta forma, não há mais motivo para uma criança, considerando-se incapaz de cumprir determinadas atividades, repelir as aulas de Educação Física. Se, antes ela não conseguia lançar a bola de basquete em uma cesta presa no alto, agora pode arremessá-la em uma pilha de pneus. Fica tudo mais fácil.

Uma aula de Educação Física bem original

Ao contrário de alguns professores, que vêem as aulas de Educação Física como um espaço para desenvolver atletas, Eduardo Carvalho propões às turmas do CEAT jogos tradicionais, que fazem parte da infância e da pré-adolescência delas, descobrindo em cada aluno novas habilidades e estimulando a participação de todos nas aulas. Com base nestas práticas, o professor orienta os alunos a alterarem regras esportivas e vai experimentando as modificações nas aulas durante uns três meses. Para que os estudantes tenham uma noção maior de como alterar regras, Eduardo também lhes apresenta jogos que foram criados por outras turmas em anos anteriores.

Em seguida, conscientes dos objetivos do trabalho e de como ele funciona, a turma é dividida em grupos para que cada um crie um jogo em que se misturem várias habilidades. "Recomendo a eles que a atividade deve ser elaborada segundo o espaço físico e o material esportivo disponível no colégio", esclarece Eduardo. O próximo passo é passar por uma nova fase de experimentação e seleção dos melhores jogos realizados pelos próprios alunos. Estando os jogos devidamente organizados e escolhidos, é feito um intercâmbio entre as turmas.

O fechamento do projeto se dá todo final de ano, através da realização de uma Olimpíada no CEAT. As turmas, de forma democrática, selecionam cinco jogos, em média, que farão parte do torneio. A idéia é fazer com que todos os alunos mantenham o interesse pelo projeto e substituam a idéia de competição pela de cooperação, soma de competências. E, no fim das contas, todas as turmas com as quais Eduardo lida, do C.A à 3a série, são incluídas na Olimpíada.

Interagindo com o Português

O trabalho de Eduardo beneficia os alunos também em outro campo: o do Português. O professor de Educação Física estimula a produção de textos em aula, que farão parte de um libreto contendo os jogos alterados e criados. A criançada deverá organizá-lo como um livro, em que se estabelecem as regras, os objetivos, o número de participantes de cada jogo e material utilizado. "E cabe aos alunos produzir o seu próprio texto", ressalta Eduardo.

Confira nos Links, exemplos de jogos apresentados por Eduardo aos alunos no primeiro momento do projeto e que serviram de inspiração para a criação de outros.

Profº Eduardo Carvalho
9918-7039
CEAT - 285-7440

Hanbebol Gigante
Pique-Bandeira
Bandeirobol

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