Pânico de Escola: Uma Realidade

No início do ano letivo, o problema é comum e pode até exigir intervenção de especialista

Katia Machado e Simone de Azevedo

Às vésperas de começarem as aulas, a criança fica ansiosa e não consegue dormir. Quando a mãe a acorda avisando que é preciso se vestir para ir ao colégio, faz manha, chora e até passa mal. Na hora de sair, fica pálida, com as mãos frias e seu coração dispara. Ao chegar à porta da escola, abre um berreiro e não larga a mãe por nada no mundo. Estes sintomas, muitas vezes interpretados como rebeldia, chantagem, ou simplesmente, artifícios da criança para "matar aulas", retratam, na maioria das vezes, a síndrome do pânico de escola.

Os problemas de adaptação de crianças no começo do ano letivo são muito freqüentes e podem até exigir a intervenção de um especialista. Afinal, o universo escolar tem características diferentes para cada aluno e nem todos lidam bem com elas. Para as crianças que já freqüentaram uma escola, a volta às aulas significa o momento de rever os amigos, os professores e relatar as experiências vivenciadas nas férias. Mas, para as que irão fazer parte deste universo pela primeira vez, a escola pode significar uma ruptura com o mundo familiar. E a única maneira de as crianças demonstrarem seu medo é recusar a nova situação imposta.

A síndrome do pânico também é comum entre crianças na faixa dos 10 aos 11 anos de idade que estão ingressando na 5ª série do 1º grau. "A mudança representa para esta criança também uma situação nova, e lhe é desconhecido causa medo". A afirmação é da psicóloga , psicopedagoga e professora do Instituto de Psicologia e do curso de pós-graduação em Psicopedagogia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Izabel da Costa Ferreira. Ela garante que este medo é autêntico e os sintomas da síndrome são verdadeiros.

Minimizar o problema não é difícil, mas dependerá, principalmente, da postura adotada pelo educador. "Os professores devem manter sempre uma relação afetiva com os alunos, mostrando-lhes o quanto a escola pode ser prazerosa", aconselha. Conhecer previamente os alunos para descobrir suas particularidades é uma das dicas que Izabel dá aos professores para lidar com tamanho terror. E a troca de informações entre professor e aluno contribui para que o estudante sinta-se seguro em relação ao ambiente escolar. Por isto, além de transmitir conteúdos, o professor deve estar sintonizado com carências, dificuldades, medos e todas as emoções da criança, tornando-se um ponto de referência seguro para ela.

 

A causa mais comum da fobia escolar, segundo a psicóloga, é a ansiedade ante a separação, intimamente ligada à história anterior da criança. "Se ela tem um passado de sucessos e a situação nova é encarada como uma coisa boa, em vez de ter medo da escola, a criança terá curiosidade e prazer em conhecer o novo ambiente", exemplifica. Mas, se a história da criança for diferente e nenhuma intervenção for feita em contrário, a criança poderá preferir um empobrecimento de contatos sociais e acabar tendo prejuízos no rendimento escolar.

O papel da escola

O papel da escola é fundamental para que a fobia escolar seja reduzida. Como segundo lar das crianças, a escola deve permitir que seus alunos tenham liberdade e autonomia para agir, sem deixar de lado as regras necessárias à manutenção da ordem e do bom comportamento dos alunos. É necessário, também, que o ambiente escolar seja transformado, por cada professor e cada gestor, em um lugar onde a criança possa sentir-se segura, certa de poder contar com a ajuda dos funcionários, cada vez que precisar.

Outra iniciativa que Izabel considera indispensável no combate à síndrome do pânico de escola é a realização de uma reunião com a presença de pais e alunos antes do começo do ano letivo, a fim de identificar previamente possíveis dificuldades e medos dos futuros alunos. Nada impede, também, que o professor busque informações que lhe possibilitem formar um diagnóstico sobre as atividades que mais interessam aos alunos, para evitar que novos conteúdos possam criar medo ou expectativa negativa.

É importante, ainda, permitir aos pais auxiliarem na adaptação escolar, nas primeiras semanas. A presença do responsável dentro da sala de aula vai proporcionar ao aluno segurança para aceitar a introdução de um novo elemento educador em sua rotina. No fim das contas, uma experiência que poderia parecer aterrorizante para o aluno pode converter-se em deleite sem fim.

O período de adaptação

Para a psicóloga, não há como estipular um período de adaptação. Ele depende de cada criança. Desta forma, é recomendável deixar que ela se sinta à vontade para estabelecer o momento ideal. No entanto, se as dificuldades se prolongarem muito, os pais deverão checar se há algo na escola deixa a criança insatisfeita. Por isto, conversar bastante com ela e procurar o professor para saber se alguma coisa aconteceu são atitudes válidas. "À medida que os pais interagem com a escola e permitem que seus filhos falem livremente, os problemas na escola diminuem", garante Izabel.

Izabel da Costa Ferreira
Tel. 392-2415 / 447-1811

A Ansiedade dos Pais Atrapalha a Adaptação da Criança à Escola
Dicas que irão auxiliar a adaptação das crianças à escola

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