Museu da Vida:
Ciências através das diferentes linguagens

Instituição cria desafios que estimulam o espírito científico de professores e alunos

Simone de Azevedo

Edward Jenner, Louis Pasteur, Oswaldo Cruz e outros grandes cientistas tinham algo em comum: a curiosidade. Experimentando, criando hipóteses, errando e acertando, eles fizeram a Ciência evoluir. Visando à continuidade deste processo, a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e a Casa de Oswaldo Cruz, criaram o Museu da Vida, um espaço de integração entre ciência, cultura e sociedade. A proposta da instituição é contribuir para o aumento da consciência pública sanitária e divulgar a ciência, a saúde e a tecnologia por meio de uma educação lúdica e criativa, que inclua exposições permanentes, atividades interativas, multimídia, teatro, vídeo e laboratórios.

Direcionado a professores e alunos da 3ª e da 4ª séries dos ensinos Fundamental, Médio e Superior, o espaço tem capacidade para atender até 450 pessoas por dia. Situado em um campus arborizado, às margens de uma das mais importantes e movimentadas vias do município do Rio de Janeiro, o museu está organizado em áreas temáticas de visitação: Espaço Biodescoberta, Ciência em Cena e Parque da Ciência. Conta ainda com os Centros de Educação, Recepção, Apoio Informacional e Criação, responsáveis pela construção de kits lúdicos e pela realização de experimentos do gênero. Ainda em fase de implantação estão o Espaço da Biomedicina, o Espaço Passado e Presente e o Complexo de Difusão Cultural e Científico.

O Museu da Vida procura organizar seu conteúdo científico priorizando temas que apresentam a importância da ciência na vida, em diversas dimensões - cotidiana, artística, histórica, política e cultural -, sempre enfocando uma perspectiva pedagógica calcada no Construtivismo interativo e multidisciplinar. Daí a "viagem" que propõe ser tão interessante.

Proposta Pedagógica

Recuperando a cidadania de seus visitantes através da alfabetização em ciência, do despertar de vocações e realimentação da comunidade científica, o Museu da Vida procura estabelecer uma relação entre a educação formal - a obtida na escola - e a não-formal - obtida fora da escola. O Centro de Educação em Ciência, um dos espaços do museu, é o responsável por este trabalho. Segundo a gerente do centro, Maria Iloni Seibel Machado, a elaboração de uma proposta pedagógica que desenvolva seus conteúdos de forma impactante, desafiadora e muldisciplinar foi uma das primeiras preocupações da equipe da instituição antes de ser inaugurado o Museu da Vida. "Tendo em vista a heterogeneidade do público-alvo, a variedade de atividades oferecidas pelo museu e os diferentes níveis de complexidade dos conteúdos a serem abordados, o centro elaborou sua proposta pedagógica para orientar o trabalho do museu".

A proposta pedagógica visa a concretizar situações significativas de construção de conhecimentos, valores e habilidades, proporcionando aos estudantes acesso à variedade de recursos e linguagens disponíveis e a fundamentar e orientar teoricamente a operacionalização de todas as atividades em uma abordagem multidisciplinar, com ênfase na dimensão histórica e cultural da relação sociedade - ciência - tecnologia. Como cada atividade enfoca diferentes conteúdos científicos e se destina a participantes com diferentes características, a programação é organizada por profissionais de Biologia, Física e Química, além de contar com a assessoria de designers, arquitetos, pedagogos e psicólogos.

A participação e o apoio do centro na organização pedagógica dos conceitos e recursos do museu é fundamental para a estruturação de uma proposta de concepção, identificação de conceitos-chave, planejamento, escolha do público e testagem dos espaços. "Este não é um museu comum. Por ter uma abordagem temática e possuir materiais que a escola não disponibiliza, nossa preocupação é trabalhar as informações trazidas pelos professores e alunos, oferecendo informações, cenários e exposições que facilitem a observação, o avanço de seu conhecimento, mas sem respostas prontas. Nossa intenção é tornar a visita impactante para que o visitante saia do museu com vontade de pesquisar, buscar respostas para as várias questões apresentadas pelo museu", explica.

A Preparação dos Professores

Além de mediadores e monitores, que concretizam a proposta pedagógica fazendo com que cada visitante se torne sujeito de uma experiência de autoconhecimento capaz de resultar na construção de novas idéias, o museu conta com o apoio do Centro de Educação em Ciência para formular uma programação de preparação e apoio a professores de futuros grupos de visitantes. Parte do projeto consiste em visitação a toda a área da FIOCRUZ, retorno para aprofundamento técnico em uma das áreas temáticas e visitação escolar. Além desta preparação, o centro disponibiliza cursos, palestras e oficinas para professores, que por diferentes abordagens metodológicas, deverão lhes despertar a curiosidade, a criatividade e o espírito de descoberta.

A gerente do Centro de Educação, Iloni Seibel, explica que o projeto possibilita aos professores uma visão ampla de toda a programação do museu, um encontro com outros profissionais da área de Educação, um retorno para aprofundamento técnico e a escolha de um tema que motive a visitação e a discussão com o grupo escolar. "No primeiro impacto, devido às inúmeras informações apresentadas, torna-se mais difícil a assimilação de todos os conteúdos. Por isto, preocupamo-nos em dar aos educadores subsídios que auxiliem a pesquisa em sala de aula".

No ano de 1999, cerca de 300 professores participaram dos encontros de preparação. E o resultado não poderia ser outro: sucesso absoluto. As pesquisas realizadas junto aos grupos de educadores comprovaram que os encontros propiciaram a descoberta de um novo veio que enriquece o trabalho do professor e a afirmação do museu como mais um importante instrumento de educação científica.

Para Iloni Seibel, a preparação dos professores e a testagem dos recursos só estará completa quando determinadas questões forem respondidas. Entre elas, "O que acontece com o professor que passa pela primeira visita, volta para aprofundamento em um tema específico e retorna com os alunos para visitação? Que tipos de mudanças se operam na visão que ele tem de educação e de ciências? Que mudanças ocorreram na prática de trabalho dele?". O acompanhamento desta trajetória de idas e vindas do professor ao museu ainda é um desejo não concretizado totalmente, mas, na crença de estar contribuindo para o desenvolvimento e a popularização da Ciência, o Centro de Educação em Ciências continua oferendo aos visitantes a oportunidade de discutirem, pensarem as questões apresentadas pelo Museu da Vida e responderem a elas.

O Mundo da Ciência

A visita ao museu inicia-se no Centro de Recepção, cujos computadores trazem informações sobre as atividades e a programação do museu. O centro é o ponto de embarque do Trenzinho da Ciência, passaporte para o início da aventura. Uma viagem interativa pelos caminhos da ciência leva os visitantes ao Castelo Mourisco, ao Espaço da Biodescoberta e da biodiversidade, ao mundo do teatro e do vídeo no Ciência em Cena e ao mundo da energia, da comunicação e da organização da vida, através do Parque da Ciência.

Castelo Mourisco:
Imponente, o castelo foi criado em 1900 como Instituto Soroterápico Federal, por cientistas formados no Instituto Pasteur. Durante alguns anos, a construção abrigou o sanitarista Oswaldo Cruz, que assumiu a direção do instituto e iniciou uma campanha contra a varíola, a febre amarela e a peste bubônica no Rio. Em 1908, o instituto foi rebatizado como Instituto Oswaldo Cruz, em sua homenagem.

Espaço Biodescoberta:
Instalado na antiga Cavalariça, abriga uma exposição permanente sobre o conhecimento científico a respeito da vida, suas dimensões culturais e históricas e suas implicações éticas. Dividida em salas, a exposição da biodiversidade é apresentada em três escalas diferentes: geográfica, animal e humana. Na sala azul, a biodiversidade geográfica apresenta o mundo, o Brasil e o Rio de Janeiro. A bióloga Simone Maciel sugere que o material motive discussões da educação ambiental, as formas de atuação do homem sobre o meio ambiente e Geografia. A sala branca conta a história da produção de soros contra a peste bubônica e difteria. A sala Veja ao Vivo mostra alguns exemplares de animais da fauna brasileira, os mosquitos como vetores de doenças, a formiga como o indivíduo responsável pela eração do solo, a evolução biológica e sua classificação, a microbiologia e o funcionamento de uma célula. A última das salas mostra a biodiversidade humana. É a sala ideal para questionamentos quanto à heterogeneidade de seres, à miscigenação racial, à importância da genética e a conceitos raciais

Ciência em Cena:
É um espaço voltado para o desenvolvimento de atividades que, através de diferentes linguagens artísticas, divulguem e difundam as Ciências. Privilegia três projetos básicos: teatro infanto-juvenil, videoclube do futuro e laboratórios de percepção e emoção. Conta, ainda, com um cineteatro para apresentação de peças e debates sobre temas variados, cenários ao ar livre para gravação de vídeos e quatro laboratórios construídos em um prédio subterrâneo.


Parque da Ciência:

Situado em uma área externa de 4.500 metros quadrados, o espaço trata a energia e a informação como temas propícios à realização de atividades de caráter multidisciplinar, sensibilizando os visitantes para os princípios da organização da vida. Os conceitos de onda e som podem ser assimilados com a ajuda de módulos educativos (cuba de ondas, refletores sonoros, tubo de Kundt, vasos ressonantes, trilho falante, cordas vibrantes, espirais e hélices). Outra parte interessante é o Jardim dos Códigos. O físico Paulo Henrique Colonese apresenta, ali, o ambiente formado por totens de granito que contam a história das escritas e dos números.

Como levar o museu para a sala de aula

Depois de conhecer as atividades do Museu da Vida e participar delas, os professores poderão sugerir aos alunos uma atividade de reconhecimento dos principais conceitos apresentados. Cada atividade deverá conter um problema que será resolvido pelo aluno. O professor deverá apenas orientar o estudante.

Escolha um dos temas, de acordo com a série, e veja como funciona a atividade, seguindo estas dicas: 1- Determinado um tempo, o professor deverá dividir a turma em grupos que deverão formular hipóteses, testar e modificar idéias. Esta atividade poderá durar uma aula inteira, pois o objetivo principal é que os grupos encontrem a solução do problema. 2- Observar o que o grupo vizinho está fazendo não é proibido. Muitas vezes, uma informação pode ser encontrada para ajudar a solucionar a questão. 3- Depois que todos encontram a solução, o debate é o próximo passo. O professor deve recolher o material de cada grupo e pôr os alunos em circulo para que se inicie a discussão. 4- Para estimular a discussão, o professor deve perguntar aos alunos como eles encontraram a solução do problema e chegaram ao resultado. A repetição de informações não é motivo para preocupação. O importante é deixá-los à vontade 5- No final do trabalho, o professor deve pedir aos alunos que escrevam suas conclusões e façam desenhos sobre as experiências.

Fiocruz
Visitação de escolas: tel: 590-6747
Professores que querem participar do Centro de Educação e Ciência - tel: 590-5192 (Iloni)

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