Em Busca da Resignificação do ano 2000

Início de um ano muito esperado que promete várias coisas, mas acaba por ser muito parecido com os passados. Assim percebo a expectativa das pessoas e da escola que, a cada reciclagem de cada novo ano, propõem mudanças, sugerem novidades e, na maioria das vezes, recaem no que já nos é conhecido e familiar. Pergunto-me se não temos nós, professores, o papel de interferir nessa dinâmica imutável; se não podemos realizar novos trabalhos, ampliar nossas perspectivas e construir prolongados horizontes.

A Literatura Infantil me é tão presente que, a cada idéia que surge, sempre me lembro de uma ou outra história, estabelecendo entre elas relações, para muitos aparentemente absurdas. Exatamente agora, acabo de me lembrar de um lindo livro, recém-lançado pela editora Salamandra (fim de 1999), do escritor/poeta Manoel de Barros, cujo título é "Exercícios de ser criança", e que nos ensina, dentre tantas outras coisas, que somos seres capazes de inventar e, por isto mesmo, capazes de nos renovar, de olhar para nós mesmos enxergando inúmeras possibilidades de entendimento de nós e do mundo. Deste modo, o autor cria um menino que, ao carregar água na peneira, criar peixes no bolso e encontrar espinhos na água, descobre o poder mágico das palavras, encontra nelas a possibilidade de mudança daquilo que vê e sente, inventa uma nova maneira de significar a realidade.

Não poderíamos nós, professores, carregar água na peneira? Não podemos aprender com este e tantos outros meninos, inventados ou não, que a realidade está aí para ser modificada, transformada, segundo a nossa imaginação? Não podemos interferir nela, se nos dispomos a pensar e sentir a partir dela?

Que os absurdos imaginários penetrem na vida, nas escolas, nas reciclagens, e nos permitam resignificar/reinventar nossa prática pedagógica.

Adentrem, portanto, pelo mundo da fantasia, pela Literatura, pois, como dizia Cecília Meireles, ela não é, como tantos supõem, um passatempo. Ela é nutrição.

Índice edição 16