Uma aula inusitada fez com que os alunos da 1ª a 5ª série da Escola Estadual Mariano Flor de Cavalcante, em Nova Iguaçu, deixassem de lado livros e quadro-negro para aprender utilizando um novo instrumento de consulta: cartões telefônicos. A proposta original coube ao guarda municipal Claudinei Artur Pereira, que a levou à escola em parceria com a professora Priscila Fernandes.

A idéia de ensinar com base em cartões telefônicos surgiu quando Claudinei percebeu que eles trazem informações que podem ser utilizadas para inspirar aulas, além de despertar a curiosidade dos alunos sobre aspectos da cultura brasileira. Desde então, ele vai até as escolas, levando a cultura contida nos cartões para dentro delas.

O material didático utilizado é simples. Claudinei só precisa de feltro, molduras de bambu e, é claro, dos cartões telefônicos. O passo seguinte é montar painéis, agrupando os cartões por temas. No dia da aula, como se estivessem em uma exposição de Artes, os alunos admiram os painéis antes de começar a ouvir as explicações a respeito.

Na Escola Estadual Mariano Flor de Cavalcante, não foi diferente. Claudinei pediu aos alunos que identificassem os elementos e o tema de cada cartão. Daí em diante, a aula fluiu. "Quando mostrei o painel cujo tema era folclore às crianças, elas reconheceram logo a Mula-Sem-Cabeça. Contei-lhes, então, que, segundo a crendice popular, ela seria a concubina de um padre transformada no animal, como castigo, que assim deveria cavalgar à noite, cumprindo o seu destino. E conheceram, também, a Lenda do Berimbau. Segundo ela, "Uma menina saiu a passeio. Ao atravessar um córrego, abaixou-se e tomou água no côncavo das mãos. Nesse momento em que saciava a sede, um homem deu-lhe uma pancada na nuca. Ao morrer, a garota transformou-se num arco musical. Seu corpo se converte no madeiro, seus membros na corda, sua cabeça na caixa de ressonância e seu espírito na música dolente e sentimental".

 

Quando o painel sobre meio ambiente foi objeto de discussão, a criançada quis saber tudo sobre os animais estampados nos cartões. Claudinei aproveitou a deixa e falou-lhes sobre o perigo de extinção de animais como o mico de cheiro, a onça pintada e a ararajuba. Em seguida, as crianças foram alertadas sobre a necessidade de preservar o meio ambiente, aí incluídas as belezas naturais do Brasil. O cartão que estampava a Cachoeira Amorosa, um dos mais belos e visitados pontos turísticos da região de Conceição de Macacu, no Rio de Janeiro, exemplificou uma obra da natureza que deve ser preservada.

Os alunos também analisaram um painel intitulado "Pratique Esportes", que exibia modalidades de esportes. Nesse momento, Claudinei explicou : "o judô, é a luta corporal considerada a mais nobre das artes marciais. Alia habilidade e coordenação, de modo que a força do oponente se volte contra ele próprio". E, aproveitando o tema, falou a todos sobre o perigo do uso de anabolizantes e a atuação de deficientes físicos nas quadras.

O trabalho de Claudinei também abordou a História do Brasil. Através dele, comentou-se a chegada de Cabral ao Brasil, a Inconfidência Mineira, a abolição da escravatura no Brasil, a Proclamação da República, e o cartão intitulado "os primeiros habitantes do Brasil", que estampa índios Yannomami, motivou comentários sobre o Dia do Índio.

Cartões do painel de Geografia, inspiraram lições sobre os estados do Brasil, sua fundação, a população, a extensão territorial e a região a que pertencem. As crianças aprenderam que o Rio de Janeiro, por exemplo, fica na Região Sudeste, tem uma área de 43.910 Km2, foi fundado em 1º de março de 1565 e possui uma população de 5.584.067 milhões de habitantes.

A nova proposta de aula foi um sucesso. Cartões, que até então serviam apenas para ligações telefônicas, viraram material didático. Agora, não há dúvidas: eles têm muito a ensinar às nossas crianças.

Escola Estadual Mariano Flor de Cavalcante
Claudinei Artur Pereira / professora Priscila Fernandes
Tel: 412-3119 (res.)

Fotos Cartões

Índice Edição 16