Jornal Educar

Um Novo Canto Para o Brasil


Por Ednaldo Carvalho

A inspiração de escrever este texto me veio quando, certo dia, juntamente com meu filho de 9 anos, estudante da 3ª série do Ensino Fundamental, assistia, pela televisão, à seleção pré-olímpica de futebol do Brasil durante a execução do Hino Nacional Brasileiro.

Pude observar que alguns dos jogadores, jovens de até 23 anos, tropeçavam nas palavras, mostrando desconhecimento da letra. As câmeras, por alguns instantes, focalizavam o público nas arquibancadas lotadas do estádio onde se realizaria a partida internacional de futebol. Homens, mulheres, jovens e crianças demonstravam uma orgulhosa reverência. Estampava-se em seus rostos grande emoção, que ressaltava o espírito de brasilidade naquele momento de manifestação cívica da nossa gente ao som do Hino Nacional Brasileiro. As dificuldades com o texto do hino, no entanto, também eram flagrantes entre os torcedores.

Imediatamente, iniciei um diálogo com meu filho:

- Jonatas, você já sabe cantar o nosso Hino Nacional?
- Mais ou menos, pai ! - disse ele.
- Mais ou menos? - estranhei.
-A escola não ensina...
- respondeu.

De pronto, deixei de lado a televisão e debrucei-me sobre esta reflexão que espero partilhar com você.

Ao ouvi-lo dizer que a escola não lhe ensinava o Hino Nacional, tentei buscar as bases para formular críticas àquela instituição educacional. Não consegui antes que fizesse minha autocrítica. Afinal, em que eu havia contribuído para que o Jonatas soubesse a letra do nosso Hino? Estaria eu, como tantas outras famílias, transferindo para a escola toda a responsabilidade da formação cívica e moral de meus filhos?

 

Estariam as famílias brasileiras atravessando um momento de perplexidade existencial em que os valores cívicos nacionais só se manifestariam nas disputas da seleção brasileira no futebol? Estaria toda a nossa sociedade anestesiada ante a preocupação com a sobrevivência em meio a uma economia cada vez mais monetarista, na qual a disputa pela moeda impõe-se na escala de prioridades das pessoas? Em que o fato de o povo brasileiro conhecer a letra do seu Hino Nacional mudaria a sua realidade? Os vinte milhões de desempregados no Brasil teriam emprego se dominassem a letra do Hino? O mercado de trabalho se abriria para os milhares de jovens que, anualmente, concluem o segundo grau se eles soubessem cantar o hino?

Continuei a divagar...Até quando as margens plácidas do Ipiranga continuariam tranqüilas diante das desigualdades que aviltam, sufocam e neutralizam a consciência de um povo? Será que o brado desse povo precisaria ser mais retumbante, somando-se a choro, gemidos e dor? E o sol da liberdade continuaria a ser um cativo da neocolonização econômica do neoliberalismo? Quando voltaria a brilhar no céu da nossa Pátria? Investir na Educação, no jovem, na criança, e resgatar a cidadania dos idosos não seria o penhor que teríamos a alegria de pagar para conquistar a igualdade? Os nossos braços já não estão mais fortes para consolidar a liberdade pela qual tantos lutaram, desafiando o peito a própria morte? Cantar o Hino Nacional não bastaria, mesmo que soubéssemos a letra de cor. É preciso senti-lo.

Esta tarefa é das famílias, de cada um e da escola, pois nela deve ressurgir a motivação, o empenho e a iniciativa de não deixar cair no esquecimento um dos grandes símbolos do nosso povo. Que nossos filhos, nossos alunos, nossa juventude, não sejam apenas contabilizados como mais números na estatística consumista. Que as instituições educacionais, já precárias no Brasil, estejam voltados para a elevação dos valores nacionais. Afinal, a escola e a família são legítimas guardiãs de tais valores.

Francisco Osório Duque Estrada transformou em poesia não apenas a nossa exuberante Geografia, mas sintetizou em suas estrofes o espírito de um povo herdeiro de uma terra adorada que, entre outras mil, além de ser a Pátria Amada, foi, também, a Mãe Gentil dos filhos desse solo. Façam-se nossas as palavras dele. E que tais filhos um dia saibam e possam "cantar" um novo Brasil.

Ednaldo Carvalho
Editor do Jornal Appai Educar

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