Clarisse Werneck

Aulas de Ciências: Física, Química, Biologia. A realidade da maioria dos colégios brasileiros é uma infinidade de aulas teóricas e poucas aulas práticas ou nenhuma. Afinal, o custo de um laboratório e do material que se utilizam em experiências é muito alto e os colégios não têm condições de arcar com estas despesas. Porém, para a professora Maria Antônia Malajovich, coordenadora do curso de Biotecnologia do colégio ORT, falta de dinheiro não é desculpa para a ausência de aulas práticas. Desde que montou o curso, há quatro anos, ela vem pesquisando materiais baratos que possam ser usados nos experimentos por seus alunos. Muita coisa é feita com material reciclado e produtos de supermercado. O sucesso é total.

O Instituto de Tecnologia ORT, por ser uma escola técnica, possui laboratórios altamente equipados. Mas a professora Maria Antônia avisa aos profissionais de ensino que, para o 1o e o 2o graus convencionais, as aulas práticas de Química, Física e Biologia podem ser dadas na própria sala de aula. "Há várias experiências que podem ser desenvolvidas com um custo quase zero", afirma. No próprio laboratório de Biotecnologia do ORT, a despeito de ser bem-equipado, a professora Mala-jovich utiliza garrafas vazias de refrigerantes, frascos de marmelada, seringas - substituindo buretas (material que é utilizado para medir a quantidade de líquidos), caixinhas de filmes, bombas de aquário, isopor, mangueiras, balões de aniversário. Entre os materiais analisados estão detergentes, caldo de carne, sabão em pó, água de coco (substituindo o reagente, para cultivo de tecidos vegetais).

Uma das experiências feitas pelos alunos do curso de Biotecnologia, por exemplo, foi prender seis sementes de milho com um alfinete, em um Perfex cuja ponta ficava permanentemente imersa em um vidro com água. Assim, o Perfex ficava sempre molhado. Os grãos de milho estavam presos em várias posições diferentes. Observou-se que, independentemente da posição em que se encontrava a semente, a raiz sempre crescia para baixo.

 

 

Mesmo quando não há a possibilidade de se trabalhar com material reciclado, porque a experiência é mais elaborada e exige materiais mais resistentes, Maria Antônia encontra maneiras de baratear custos. No seu laboratório, a câmara fria é uma geladeira velha que pertenceu a ela própria, que apenas a adaptou, substituindo a porta original por uma de vidro. O autoclave (panelão que serve para esterilizar os materiais trabalhados) são duas panelas de pressão comuns. E há um terrário que foi feito com um aquário encontrado no lixo por uma aluna.

Nascida na Argentina, Maria Antônia, que mora no Brasil desde 1976, aponta um problema sério no ensino de Ciências no Brasil: "Cada vez menos, os professores sabem trabalhar em laboratório". Prova disto é que existem muitos colégios, no Rio de Janeiro e em todo o país, com laboratórios equipadíssimos, mas que passam a maior parte do tempo trancados. Por esta razão, ela e o marido, Hugo Malajovich, diretor do ORT, estão desenvolvendo um curso para professores. "Mostraremos a eles que aulas práticas podem ser dadas em qualquer lugar, e com um investimento muito baixo". Diz Maria Antônia.

Malajovich garante que os professores que optarem por ministrar mais aulas práticas verão que o interesse de seus alunos aumentará, assim como seu rendimento. "Aulas práticas são muito mais motivantes", diz. O estudante Felipe Ribeiro, de 17 anos, aluno do terceiro ano do curso de Biotecnologia e estagiário de laboratório, concorda com a professora. Ele garante que tem muito mais interesse em assistir às aulas laboratoriais do que em ficar em sala. Maria Antônia e o marido Hugo prestam assessoria para instituições de ensino, desenvolvendo projetos para a implantação de laboratórios. Com experiência no assunto, ela dá um conselho para diretores de colégios particulares que dispõem de verba para este tipo de investimento: "Os laboratórios devem ser montados com base na necessidade objetiva de se fazerem determinadas experiências. A escola deve começar preparando os professores, que podem ministrar aulas práticas nas próprias salas, ou em outros espaços alternativos. Quando houver a necessidade de educadores e alunos fazerem experiências mais elaboradas, aí sim, deve-se pensar em montar um laboratório. O equipamento também pode ir sendo comprado aos poucos, de acordo com a necessidade. Caso contrário, o laboratório da escola estará sempre vazio e os professores continuarão dando aulas apenas teóricas", lamenta a professora. Tomara que cada vez seja mais fácil para Malajovich descobrir novos materiais. Afinal, graças ao criativo trabalho realizado por ela, os alunos do ORT puderam aprender tanto em laboratório. Enquanto isso, outros profissionais de ensino podem e devem seguir seu exemplo, melhorando a qualidade das aulas de Ciências nos colégios brasileiros.