Intolerância


A intolerância, mesmo invisível, vem fazendo um estrago em todas as esferas e classes sociais. Veja os números e entenda por que esse sintoma se mostra cada vez mais presente entre a população

A multiculturalidade do Brasil é sempre mencionada para identificá-lo como um lugar de muitas religiões, costumes, etnias, etc., porém isso não faz do país um lugar, necessariamente, harmônico. Há cada dia presenciamos uma nova problemática no que diz respeito à convergência multicultural. Ou seja, a falta de harmonia entre as diferenças tem acarretado conflitos reais que vão deixando marcas severas na sociedade. O preconceito não se configura apenas quando nos referimos a cor da pele, nível social, sexualidade ou recurso intelectual. Ele também está presente nos pequenos comentários e atitudes diárias em que julgamos pessoas ou fatos sem um prévio conhecimento, ocasionando, muitas vezes, erros irreparáveis. Atualmente, a internet tem se tornado o canal fonte para a disseminação do ódio, já que lá não há um filtro automático para eliminar as mensagens de intolerância, além de não ser possível identificar com precisão quem são os verdadeiros personagens que estão por trás de um perfi l numa rede social, por exemplo.

De acordo com dados da ONG Safernet, ape-nas entre os anos de 2010 e 2013, aumentou em mais de 200% o número de denúncias contra páginas que divulgaram conteúdos racistas, misó-ginos, homofóbicos, xenofóbicos, neonazistas, de intolerância religiosa, entre outras formas de discri-minação contra minorias em geral. É um dos lados negativos da plataforma que possibilita o poder de expor o que se pensa. Muitos internautas estão atentos e rapidamente denunciam postagens que contêm cunho ofensivo, mas esses posts são uma parcela mínima comparada à proporção infi nta que a web visualiza, pois há aqueles que agridem sem testemunha ou expectador.

Uma pesquisa realizada pela Agência Nova/ sb, batizada de Comunica Que Muda (CQM), mo-nitorou dez tipos de intolerância nas redes sociais. Toda vez que alguma palavra ou expressão refe-rente a um desses assuntos aparecia em uma pos-tagem do Facebook, Twitter, Instagram, de algum blog ou comentário em sites da internet, este post era recolhido e analisado pela equipe do CQM. Foram estudadas mais de quinhentas mil menções nas quais os comentários positivos ou neutros são diariamente encobertos por uma enxurrada de co-locações negativas.

 

Esses números fomentam a sensação de que a internet criou essa vasta onda de intolerância. To­davia, são as redes sociais que amplificam os discursos de ódio já existentes no cotidiano. Quando um indivíduo posta ou compartilha algum conteúdo neste teor, ele está corroborando e ratificando um preconceito já existente nele. É um reflexo no mun­do virtual do que faz parte da realidade daquela pessoa ou da sociedade.

 

Não sou preconceituoso, mas…

Aceitar um indivíduo diferente de nós em sua cultura, moral, ideologias ou padrões estéticos é primordial para o convívio pacífico em sociedade. Mas como podemos saber se estamos sendo pre­conceituosos se muitas vezes nem percebemos que estamos discriminando alguém? De acordo com a pesquisa CQM, a desconstrução de preconceitos velados não é fácil nem rápida, mas é preciso que tenhamos capacidade de perceber que comentários e atitudes podem causar grandes estragos sobre outras pessoas, que têm sentimentos e se ofendem, assim como você. O preconceito se esconde nos diálogos do dia a dia e, muitas vezes, as pessoas não se dão conta de que seu comportamento ou comentário tem cunho preconceituoso.

Por exemplo, uma professora manda um bilhete para a mãe de uma de suas alunas afrodescendentes dizendo que a garota ficaria mais bonita se “abaixasse” o cabelo.

O homem que atravessa a rua ao ver mendigos na sua frente.

Alguém que ressalta o fato de que uma mulher está ao volante do automóvel.

Ou quando se avalia a inteligência de uma pessoa por conta da cor do seu cabelo. Desconstruir esses conceitos é o primeiro passo em busca de uma sociedade mais igualitária e menos segregadora.

 

Intolerâncias visíveis e invisíveis

Como saber se estamos sendo preconceituosos? Qual é a diferença entre o preconceito visível e o invisível? Certos co-mentários e atitudes, mesmo que não tenhamos a intenção, podem causar grandes estragos na vida de outras pessoas, que também têm sentimentos e se ofendem. Dentre as diversas formas de intolerância, existem aquelas que são visíveis e as que são invisíveis. Na primeira, os atos são facilmente percebidos como preconceituosos ou discrimina-tórios, têm alvo explícito. É feita de maneira direta, para alguém ou para uma figura pública, o que corresponde a 72% dos casos, revelando que esse tipo de intolerância, na maioria das situações, possui um alvo. Já a intolerância invisível pode ser algum comentário ou expressão, que muitas vezes passam despercebidos por aqueles que não sentem na pele esse tipo de preconceito. Se esconde em casos cotidianos e muitas vezes nem nos damos conta de nosso comporta-mento ou comentário preconceituoso. Um exemplo disso é quando um jovem diz para uma pessoa mais velha que ela “já não tem mais idade para certas coisas”. Além da intolerância visível e invisível, existem também a real e a abstrata. A primeira é aquela que é referente a um caso concreto ou pessoa física. Já a abstrata não se restringe a um alvo determinado, atingindo de maneira geral a todo um grupo de pessoas.

 

Intolerância na internet

Por permitirem o anonimato e parecerem um terreno em que prevalece a impunidade, as redes sociais estão cada vez mais sendo usadas como um canal para discriminar determinados grupos sociais. No Brasil, a intolerância de maior audiência na internet é a política (com 220 mil menções), a segunda mais comum é a misoginia (com 50 mil comentários), seguida por preconceitos relaciona-dos a deficiência, aparência e raça. A conclusão é de uma pesquisa realizada pela Comunica Que Muda, que, utilizando a plataforma digital da agência Nova/sb, analisou mais de 500 mil menções na internet, entre abril e junho de 2016. O estudo mapeou os dez tipos mais recorrentes de intolerância nas redes sociais no país, em relação à aparência das pessoas, às suas classes sociais, às inúmeras deficiências, à homofobia, misoginia, política, idade/geração, racismo, religião e xenofobia. Os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, pela ordem, concentram o maior número de postagens preconceituosas. Em termos relativos, na proporção com o número de habitantes, o Distrito Federal está no topo da lista. “Cabelo ruim”, “gordo”, “retardado mental”, “boiola”, “golpista”, “velho” e “nega” estão entre as expressões que predominam nas nuvens de palavras encontradas nos posts que evidenciam diversos tipos de intransigência em relação ao outro.

 

Como denunciar um crime virtual?

O denunciante deve reunir o maior número de provas possíveis. É essencial imprimir as páginas, guardar os endereços virtuais, salvar os links dos indivíduos responsáveis pelo crime e tirar cópia das ofensas. Uma vez que as provas estejam reunidas, o denunciante pode dirigir-se a qualquer tipo de delegacia. Há, em certos locais, aquelas especiais para crimes virtuais.

 

Intolerância na sua timeline: vai deixar barato?

Já passou o tempo em que a internet era terra de ninguém. Hoje existem alguns serviços importantes para denunciar os intolerantes digitais. Seja no Facebook, no Twitter ou nos comentários de algum portal de notícias, se algo soar ofensivo, você pode e deve denunciar.

 

Para denúncias via e-mail:

Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil (Cert)

Para enviar denúncias de mensagens ofensivas, deve-se enviar uma cópia do e-mail original e infor-mar a instituição que está sendo utilizada no golpe.

E-mail: mail-abuse@cert.br

Centro de Atendimento a Incidentes de Segurança (Cais) da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP)

Para encaminhamento de denúncias, deve-se enviar uma cópia do e-mail original e avisar à empresa de que o seu nome está sendo usado na execução de um golpe virtual.

E-mail: phishing@cais.rnp.br

Para enviar denúncias de aplicativos suspeitos, cavalos de troia e outros programas maléficos usados nos golpes on-line.

E-mail: artefatos@cais.rnp.br

Denúncias de crimes na internet também podem ser feitas ao canal da Divisão de Comunicação Social da Polícia Federal.

E-mail: crime.internet@dpf.gov.br

 

Para denúncias por telefone:

Você pode contar com o serviço do Departamento de Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos. É só discar 100.

 

Para denúncias via sites:

www.humanizaredes.gov.br – Denuncie mensagens preconceituosas, racistas, xenofóbicas e que violem os Direitos Humanos.

www.safernet.org.br/site – Organização não governamental que reúne especialistas para combater crimes digitais. Denuncie delitos como pornografia infantil, racismo, xenofobia, intolerância religiosa, neonazismo, apologia e incitação a crimes contra a vida, homofobia, apologia e incitação a práticas cruéis contra animais e tráfico de pessoas.

www.ic3.gov/default.aspx – Site para denunciar crimes digitais internacionais.

 

A realidade está presente na nossa frente, mas às vezes não enxergamos

A intolerância por aparência é percebida desde a infância, percorrendo a adolescência, fases em que o bullying é bastante praticado. Já conhecido mundialmente, o termo é usado para caracterizar atos de violência psicológica, física, verbal, material, moral sexual e virtual que acontecem principalmente nos ambientes escolares. O que tem se discutido também é que não são apenas os estudantes que sofrem essa represália. A mídia tem nos mostrado que os professores têm sido constantemente alvo de violência dentro da sala de aula.

Aparência

O site brasileiro de empregos Catho constatou, com base em uma pesquisa feita em 2013, que 6,2% dos empregadores confessaram não contra-tar pessoas obesas para os cargos oferecidos. Em uma sociedade em que o bonito é ser magro, há uma falsa ideia de que quem faz piada com o peso alheio está apenas “preocupado” com a saúde do outro. Enquanto isso, pessoas que podem muito bem sofrer de algum transtorno alimentar, como anorexia e bulimia, são quase que obrigadas a vi-ver com vergonha de seus corpos.

 

Classes sociais

Esse preconceito está relacionado ao poder aquisitivo, ao acesso à renda, à posição social, ao nível de escolaridade e ao padrão de vida dos indivíduos. Um exemplo em nosso cotidiano está na atitude geral da população ao cruzar com um morador de rua ou até mesmo um afrodescendente nas vias das grandes cidades brasileiras. Em muitos casos, as pessoas mudam de calçada ou de caminho para evitar o confronto, e fazem isso movidas por um “pré-conceito” ou por conclusões precipitadas baseadas em estereótipos. O preconceito de classe é um tema recorrente na obra de Karl Marx, que fazia uma crítica ao capitalismo e à divisão de classes sociais. Atualmente, esta forma de discriminação está presente em todos os níveis sociais e pode ser visualizada em todas as cidades do Brasil, onde conseguimos notar as diferenças da infraestrutura entre os bairros nobres e os da periferia.

 

Homofobia

O professor de Inglês Wellington Cadinelli, em um relato exclusivo à Revista Appai Educar, revela que sofreu preconceito tanto dos alunos como da gestão escolar. “Eu fiquei cinco anos como professor numa escola pública do interior. Eu fui carinhosamente apelido de “Mona” por uma turma particularmente difícil. Eles não me aceitavam de forma alguma, tinham um comportamento terrível e eram os únicos que usavam de maldade com minha orientação sexual. Quando dei um sermão na turma, fui denunciado pelos pais no conselho tutelar por constranger os filhos deles. Foi uma época horrível”, diz o professor. As considerações eram acionadas à gestão escolar, mas os responsáveis sempre desconversavam o preconceito. Logo, o professor precisou se mudar para a capital do Rio de Janeiro para continuar lecionando.

Para Wellington, a educação mudou muito comparado ao tempo de sua infância. Aos 26 anos, ele acredita que a violência na escola está sendo um caminho árduo de se combater. “A gente tá numa época onde valores de respeito caíram muito por terra. Quando eu era aluno, o professor era mais empoderado. Hoje em dia, qualquer exagero por parte do professor pra repreender é inútil. O aluno manda. As coisas se inverteram. Todas as campanhas de respeito estão virtuais demais”, aponta. Indagado se havia intolerância por ser um professor muito jovem, ele é enfático: “Olha, por parte dos alunos não. Ser mais jovem é a melhor coisa pra se conectar bem com eles. Mas, por parte da direção e pais de alunos, era frequente no começo. Eu quase não tinha voz”, confessa.

 

Pessoas com deficiência

De acordo com a pesquisa da Agência Nova/sb, a intolerância contra deficientes acontece, geralmente, de forma disfarçada. “Eles têm limitações diárias de locomoção, acessibilidade, empregabilidade e acesso aos estudos, além de ter de lidar com ofensas e piadas com a própria condição. Os crimes contra deficientes envolvem intimidação, abuso, comentários de mau gosto, imitações e ataques morais. E a internet facilita abordagens de ódio”, revela o estudo.

Uma situação bem comum em nosso dia a dia é a questão dos lugares especiais reservados para pessoas com deficiência, como assentos em ônibus e metrô, vagas preferenciais, atendimento exclusivo em bancos, empresas, instituições. É comum que esse espaço seja ocupado, e a pessoa acabe discutindo ou brigando apenas para ter os seus direitos respeitados. “A ausência de uma educação inclusiva, que ensine noções de cidadania, respeito e convivência, é o principal estímulo para esse tipo de intolerância. Como fruto, pessoas com deficiência acabam tendo seus direitos negados, podem sofrer de baixa autoestima e passam a vida sentindo-se impotentes”, analisa o estudo.

Religião

A professora de história Analice Martins conta para a redação que seu problema era discutir religião. “O maior dilema não era acreditar ou não acreditar, era se posicionar”, critica. A educadora relata que sofria preconceito quando usava acessórios africanos ou roupas com estampas relacionadas à umbanda. “Já cheguei a ouvir de uma coordenadora que ‘não pegava bem’ eu mostrar que tinha uma religião que não fosse convencional, que os alunos deveriam receber educação religiosa em casa. Mas eu, como uma professora historiadora, fiz questão de quebrar essa barreira e lecionar sobre a vida de Jesus, Maomé, Buda, a construção histórica das religiões como a católica, evangélica, espírita, umbandista, islâmica, entre tantas outras, para mostrar aos meus alunos que é essa diversidade que constrói nossas raízes, e que jamais deve ser perdida. Precisamos saber sobre as outras religiões para entender o próximo”, enfatiza.

 

Racismo

Casos notórios, como as ofensas contra a jornalista Maria Julia Coutinho, a atriz Taís Araújo e a cantora Ludmilla, entre outros, ajudaram a tornar o racismo um pouco mais explícito. Não é novidade no Brasil que comentários racistas são em sua maioria velados e até muitas vezes inconscientes, presentes no vocabulário popular e enraizados na cultura.

Luana Toletino, de 33 anos, é professora de História há nove anos e faz Mestrado na área. Neste ano, foi vítima de preconceito racial em Belo Horizonte, Minas Gerais, quando seguia para a escola onde trabalha. Ela foi parada na rua por uma mulher desconhecida, que a perguntou: “Você faz faxina?”. Espantada com a abordagem, Luana respondeu: “Não. Faço mestrado. Sou professora”.

Ela afirmou não ter ficado ofendida pela pergunta da mulher. “Eu já fui faxineira e acho uma profissão muito digna. Não fiquei ofendida. Algumas pessoas falaram para mim, “ah, mas só porque ela achou que era faxina?”. Não é isso. É um sentimento de “poxa vida, por que ela tem que achar que eu só posso ser faxineira?”. É um descontentamento. Por que me abordar e falar isso? O que me dói é as pessoas me lerem dessa forma por ser negra. Foi muito invasivo”, disse.

Luana fez uma publicação nas redes sociais contando a história. O post teve mais de 2,5 mil compartilhamentos. No texto, ela fala sobre como o preconceito contra negros é enraizado na sociedade.

 

Misoginia

Nome dado ao ódio e à aversão às mulheres, que sofrem com o machismo diariamente. Assédio, ódio declarado, incitações a estupro, nudez vazada, pornografia de vingança e discursos travestidos de “piada” são alguns exemplos do que representa a misoginia, seja ela on-line ou off-line. A pesquisa da Agência Nova/sb garante que a misoginia também ganha proporções muito maiores no meio digital. “Existe uma linha muito tênue entre o que é liberdade de expressão e o que se torna discurso de ódio. Ao mesmo tempo que a internet oferece mais espaço para que as pessoas digam o que querem, ela também escancara a desigualdade de gênero existente em todas as esferas da sociedade. O bom de tudo isso é que, enquanto alguns procuram difundir e ridicularizar mulheres web a fora, elas estão usando o espaço para dialogar, debater e promover grupos de discussão, ajudando umas às outras. Afinal, a luta contra o machismo vai bem além da tela do computador”, segundo dados do estudo.

Política

Coxinha ou mortadela? A intolerância política está cada vez mais em evidência no Brasil. Ódio fomentado principalmente a partir das campanhas para a última eleição, em 2014, impulsionado pelo resultado apertado e constantemente alimentado pelas crises política e econômica. No meio dessa confusão toda, proliferaram memes e notícias falsas nas redes sociais, com discursos extremamente rasos que incentivam o ódio e a divisão, cujo objetivo é desmoralizar o outro lado, aproveitando-se do fato de que muitas pessoas não checam as informações publicadas na internet, acirrando ainda mais a disputa. “O efeito disso é a negação completa do lado oposto, que deixa de ser visto pelo que é, um grupo que tem uma posição política diferente da sua, para ser encarado como inimigo, um erro clássico de quem ainda não aprendeu a brincar de democracia”, exemplifica o dossiê.

 

Xenofobia

A crescente onda migratória dos últimos anos fez com que a xenofobia voltasse com força em todo o mundo. Dados da Secretaria Especial de Direitos Humanos, do Ministério da Justiça e Cidadania, mostraram um aumento de 633% nas denúncias de xenofobia no país apenas em 2015. As maiores vítimas foram haitianos, com 26,8%, e árabes, com 15,4%. Como gritam os números, a chegada em massa de imigrantes do vizinho da América Central foi o ponto de partida dessa explosão por aqui, mas eles não são as únicas vítimas. Pessoas de outros países também já relataram agressões, especialmente latino-americanos, africanos e árabes. Além disso, temos no Brasil uma espécie de xenofobia interna, com o discurso de ódio regional sempre presente, principalmente contra nordestinos.

 

É possível educar sobre intolerância desde muito pequeno

Em Itajaí, Santa Catarina, um professor de educação física que dá aula para o ensino infantil tem se destacado pelo Brasil e em outros países por sua metodologia interdisciplinar aplicada em sala de aula. O Mestre Éliton Rufino Seára utiliza um violão e canções autorais para conscientizar os pequenos acerca de diversos assuntos, inclusive o respeito ao próximo. Sua ideia principal é a de se conectar com os diversos campos do saber. “Desse jeito, procuro falar que meu trabalho busca desenvolver e instigar as crianças para a criatividade, a diversidade e a diversão em aprender. É triste pensar que, ao sair da educação infantil, elas se encontram com uma escola que, muitas vezes, nega e aprisiona o lúdico, por isso faço o máximo de esforço para que possam ter esses momentos na educação infantil”, enfatiza.

Em sua página oficial do facebook, os vídeos com cantigas e dicas de músicas para lecionar para crianças já somam mais de 100 milhões de visualizações. De acordo com o professor, as canções que viralizaram na internet, na maioria das vezes, foram compostas no chão da escola. “Todas as minhas composições, praticamente, nasceram em meio às aulas, nos corredores do CEI”, explica.

A música “O meu amigo eu vou respeitar” surgiu numa sala de Jardim em um momento no qual os nervos das crianças e o do professor estavam aflorados. “A classe estava apresentando sérios problemas de agressividade, o que impossibilitava muitas ações e, inclusive, estava dificultando a convivência entre as próprias crianças. Então, fui até minha pequena sala de educação física (que mais parece uma mini quitinete) e peguei meu violão. Foi ali, naquele turbilhão, que criei a canção”, revela. Na canção, Éliton questionou se bater, morder, empurrar, beliscar era algo bom e se aquilo fazia as pessoas ficarem felizes. A resposta, como esperado, foi que não. Mas ao mesmo tempo pensou: por que não apontar o contrário disso? Assim, aproveitou o ensejo e perguntou se carinho, abraços e ajudar as pessoas era algo bacana, que trouxesse boas energias. “A resposta foi sim. Naquele instante surgia a música que mudou a minha relação com o que eu entendia acerca da importância da música/musicalização na educação infantil. Hoje dou muito mais valor, vejo muito mais significado nessas práticas e corroboro o que diz um grande pensador: ‘O novo educador incentivará os sons à vida humana’”, enaltece.

Outras questões que sempre menciona em suas aulas e palestras é a relação do brincar, das ações no dia a dia com as crianças e a possibilidade de os educadores se envolverem com questões importantes, como a relação da diversidade, do respeito às diferenças e da quebra de estereótipos.

Questionado sobre a resposta das crianças em relação às atividades, Éliton é enfático: “Percebo uma relação de aprendizado muito intensa quanto aos diferentes temas da vida humana. Quando uma criança aprende uma música sobre o respeito, uma atividade que fala de respeitar a natureza e o meio ambiente, ou algo sobre alimentação, ela vai pra casa e trata logo de compartilhar suas novas experiências. E quer saber o que eu acho disso? Formidável, espetacular. As crianças nos ensinam que os conteúdos e as habilidades que lhes queremos ensinar pode ser repleta de sentimentos, de sorrisos, de afetos, de cheiros, cores e vida. Acredito imensamente na educação infantil. Se levarmos fé num trabalho transformador e, principalmente, não ficarmos estagnados nas mesmas formas de ensinar, construiremos novas metodologias, novas pontes e uma educação infantil cada vez mais rica”, exalta o Mestre Éliton Rufino Seára.

O MEU AMIGO EU VOU RESPEITAR

?FIZ UMA MÚSICA SOBRE O RESPEITO?.

?FIZ UMA MÚSICA SOBRE O RESPEITO?. Ótima para usar com os alunos nos primeiros dias de aula e nas férias. Livro e cd da música> https://bit.ly/2TBJQOvEntão, MARQUE os amigos, curta e compartilhe.????

Publicado por Educação Física E Educação Infantil em Quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

 

Conheça a página oficial do Professor Éliton no Facebook:

www.facebook.com/EFeEducacaoinfantil


| O que no cotidiano te é insuportável?

Opinião especial para a matéria de capa, por Vinícius Cardoso Pasqualin

 

Ouvi esta pergunta em um seminário no Hospital psiquiátrico São Pedro que me serviu como disparadora de um processo crítico, e é com ela que inicio esse texto e já digo a resposta. O que me é insuportável no cotidiano é a INTOLERÂNCIA! Mais do que o preconceito.

Voltaire diferencia intolerância de preconceito onde coloca: “O preconceito é uma opinião sem julgamento”: e até afirma a existência de “preconceitos universais, necessários, que representam a própria virtude”. E a intolerância é a dificuldade de o ser humano aceitar “bipolaridades”, especificamente as religiosas, o que pode levar o homem a um comportamento agressivo, à perseguição do adversário.

Evitar a intolerância é possível, se a sociedade puder desfrutar de boa educação, inclusive a linguística, e estiver, conforme o conceito de Adorno (1971), orientada contra a barbárie. Libertar-se dela é resistir sem destruir, sem ofender, sem agredir pela linguagem ou pelas ações.

A língua costuma espelhar o que acontece na sociedade. Pode acontecer de pensamento e realidade serem intraduzíveis. Não porque haja lacunas na língua, mas porque o sujeito mal compreende a realidade ou seu próprio pensamento.

Então, professores e leitores da Revista Appai Educar, só aí já temos uma missão, a de incluir. A inclusão pode ser colocada como uma estratégia que (re)configura os espaços escolares e as ações realizadas nas escolas. É um fazer fluir para fazer sair, é uma necessidade contemporânea de desenvolver habilidades que faz da escola um espaço transitório e de estímulo ao desejo de um futuro melhor numa sociedade neoliberal que formata as pessoas no presente colocando-as no lugar de sujeito aprendente, ou seja, de alguém que precisa cada vez mais aprender. Aqui, a ideia é tentar ampliar o olhar para a intolerância e o que ela quer nos dizer. Essa escrita era mais para provocar reflexão, já que as realidades são diferentes e paralelas, mas acho importante compartilhar algumas coisas que aprendi na minha caminhada.

É legal trazer o movimento de mediação de conflitos nas escolas, pois existe uma implicação legal dos alunos e tem dado bons resultados. Trabalhar com outras linguagens, filmes, música, fotografia, estimular o debate entre os alunos. Aprendi que tudo que não é dito não é elaborado, ou seja, tudo o que não for trabalhado na escola, o que ele não escuta, de alguma forma volta, em forma até de violência.

Se fazer entender é uma dificuldade, precisamos assumir isso. Tudo tem uma história e um contexto, inclusive nós, e é importante termos isso claro, pois serve de ferramenta para nós e para o outro. Promover a polêmica é bom, é importante aceitarmos que as diferenças existem e tentar entender o lugar de fala do outro. O meu lugar de fala é de um homem cisgênero (que se identifica com seu sexo biológico), branco (de origem afro) de orientação homossexual, 28 anos, de família que mudou de configuração ao longo dos anos (divórcios, irmãos, pais) e psicólogo. Essa opinião que aqui vos escrevo foi construída com muita vida, assim como várias outras aí pelo mundo.

O que no cotidiano nos é insuportável? Talvez lidar com a diferença, se desconstruir, se refazer, reaprender, dificuldades de completar as missões que nós mesmos nos damos, aceitar o possível… O que nos é insuportável?

Vinicius Cardoso Pasqualin é psicólogo (CRP 07/22901), especialista em Família, Casal e Sexualidade, mestrando em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Membro do núcleo de estudos continuados DOMUS. Além de psicólogo clínico e escolar.

 

Fontes: Comunica Que Muda, Guia de direitos, Grupo Escolar, ONG Safernet e Catho.


Matéria escrita por: Jéssica Almeida e Richard Günter


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