Quimilokos: de químico e louco todos temos um pouco


Desinteresse e alto índice de reprovação foram os desafios que levaram as professoras de Química Maria da Penha Vieira e Kátia Ferreira, do Colégio Estadual Álvaro Negromonte, a realizar a Feira de Química com o Ensino Médio, há dois anos. Na sua 3ª edição o evento esse ano veio com o tema Quimilokos – de químico e louco todos temos um pouco. O nome é uma alusão à forte presença dessa disciplina no dia a dia das pessoas: “A matéria não é difícil, está presente em tudo o que está ao redor; a teoria posta em prática torna seu aprendizado muito mais dinâmico e desperta a curiosidade na garotada, o que é um requisito para a iniciação científica”, garante Maria da Penha.

Os estudantes se dividiram em grupos e construíram um roteiro a partir da Química básica, das turmas de 1º ano; a “Química feia”, do 2º; e da Química a favor da humanidade, tema do 3º ano: “A ideia é falar sobre o bem e o mal dessa área científica, é mostrar que tem esse lado negativo sim, mas, à medida que vão passando pelos expositores, a visão sobre a disciplina vai se modificando, a partir dos benefícios que ela traz para o ser humano. Aí as pessoas já começam a ver a Química com outros olhos”, explica Kátia.

Com objetivo de envolver mais o alunado no trabalho, as professoras buscaram parceria com a UFRJ. O departamento de Química da Universidade realiza intercâmbios com o colégio, cedendo acadêmicos e estagiários para formar alunos monitores, além de fornecer material de laboratório. Em 2011 a instituição desenvolveu o projeto Biodiesel, com alunos do 3º ano, o que despertou bastante o interesse das turmas. “Adorei saber que Expedito Parente, um brasileiro, descobriu esse gás, o que é uma motivação para que possam surgir mais cientistas nas nossas escolas”, disse Girlane do 3º ano.

Ao passear pela mostra, os visitantes conferem experiências do 1º ano como o sabão caseiro e o detergente: “é uma forma de desmistificar a ciência, já que a química é algo que está sempre ao nosso lado”, conta a aluna Raissa, que criou com seu grupo a empresa de sabão Bioquim. “As meninas da limpeza adoraram o sabão caseiro porque ele limpa mais que o industrializado; já estão pedindo mais”, completa Maria da Penha. Outra demonstração interessante é o extintor de incêndio caseiro: é só misturar um pouco de vinagre com bicarbonato em uma garrafa pet e acontece a liberação do gás, que apaga o fogo. Na sequência são apresentados itens de segurança do trabalho utilizados nas indústrias. Curiosidades como o elevador de naftalinas revelam como acontecem as reações químicas dentro dos tubos de ensaio a partir das misturas de elementos.

Dando sequência ao trabalho, as equipes confeccionaram um labirinto no qual o visitante conhecia a história da tabela periódica, que foi criada com os primeiros elementos descobertos e suas modificações, até chegar ao modelo atual. No fim do túnel os visitantes participavam de um jogo interativo que utilizou um grande tapete com a tabela estampada, cuja proposta era facilitar o conhecimento dos elementos e suas principais classificações: “A proposta era a de descobrir o significado dos elementos químicos. Assim a tabela fica mais fácil de compreender e decorar”, conclui Ronald.

Brincando com as reações

Os alunos do 2º ano apresentaram práticas para abordar “o lado sinistro” da alquimia. O “Sangue de Diabo” foi uma proposta de mostrar a reação do hidróxido de carbono com a fenolftaleína. A ideia é jogar o líquido em um tecido, que depois evapora com o calor. Para demonstrar que o hidrogênio é mais leve que o oxigênio os alunos confeccionaram as Bolhas Explosivas, experiência desenvolvida pelo cientista suíço Paracelsus no século XVI: “Através do aquecimento as moléculas se transformam e as bolinhas sobem. É muito mais fácil entender qualquer conteúdo em Química com experiências, porque os fenômenos se explicam na prática”, revela a jovem Mayara.

Outra equipe do 2º ano montou uma engenhoca para falar sobre energia mecânica: uma maquete acoplada a uma bicicleta. Ao se pedalar, as luzes da cidade se acendem. Os gases que afinam e engrossam é uma prática comum, usada até em programas de TV, onde se consegue ter um efeito sonoro diferente da voz devido à diferença de densidade do hélio e do hexafluoreto de enxofre. Os participantes “ingeriam” o gás com uma bexiga e brincavam com as vozes.

A Química do bem

Os alunos do 3º ano chamaram atenção com a eletrólise, o princípio do chapeado. Esse processo é muito utilizado nas indústrias automobilísticas com o zinco: “É o método que faz com que os metais durem mais” explica Letícia, que realizou um experimento com uma peça de ferro e uma placa de cobre, demonstrando que o calor passa de uma para a outra. A reprodução do bafômetro em caráter experimental com substâncias químicas de laboratório dava exemplo de uma reação de oxidorredução.

A equipe de Kauã mostrava um combustível feito a partir de óleos vegetais menos poluentes, como o biodiesel. O gás, produzido a partir de uma planta chamada mamona, encontrada no Nordeste, é renovável e ajuda a prolongar a vida dos automóveis. “Seu uso está crescendo no país e já chega a 13% dos veículos”. Com o tema “Tudo se transforma” o grupo de Miquécia falou sobre a eletrofloculação, reação de redução de corantes das águas das fábricas, que já é jogada no meio sem o corante. O grupo simulou em tubo de ensaio como acontece essa reação, que consiste em separação das moléculas. A ideia é purificar a água de forma eficiente, e as empresas têm sido estimuladas a usar esse recurso para isolar o corante, processo muito caro e difícil para as empresas que trabalham com despoluição. A eletricidade quebra as moléculas e separa o hidrogênio do oxigênio. A técnica é mais barata e menos agressiva ao meio porque só utiliza corrente elétrica.

Segundo Kátia o índice de reprovação foi bastante reduzido com a criação da feira porque traz a Química para a prática e facilita seu entendimento, de modo que hoje ela já não é considerada um “bicho de sete cabeças”. Para a professora, a cada ano eles surpreendem mais com as práticas e a participação: “Experiências como a floculação, usada por muitas indústrias, a eletrólise e o biodiesel constituem tecnologias de ponta para construir um mundo melhor, um mundo novo que se abre para esses jovens que moram nesse município onde há muitos empreendimentos nesse segmento”, finaliza.


Por: Claudia Sanches
Colégio Estadual Álvaro Negromonte
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Direção: Denise Abílio
Fotos: Marcelo Ávila

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